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sábado, 24 de agosto de 2013

100 balas: uma HQ grandiosa sobre vingança finalmente concluída no Brasil

Se você, assim como este que escreve, é fã de quadrinhos, certamente já deve ter ouvido falar da série 100 Balas (100 Bullets, no original), publicação da Vertigo (selo adulto da DC Comics), sob o comando Brian Azarello (roteiro) e do argentino Eduardo Risso (arte) que numa relação quase simbiótica nos presentearam com essa pérola entre tantas histórias em quadrinhos ruins que vêm sendo publicadas por aí. A HQ foi recente e magistralmente encerrada no Brasil, com o lançamento de seu 15° Volume pela editora Panini.

]A história parte de um mote simples: um homem (Agente Graves) chega e entrega a um personagem com a vida totalmente destruída uma maleta com uma pistola, 100 balas irrastreáveis e provas irrefutáveis do responsável por todas as coisas que o levaram ao fundo do poço. A princípio pode parecer tratar-se de uma história que poderia vir a se tornar repetitiva, o que até poderia ser verdade, mas quando se observa o tom noir e pano de fundo em que gira toda a história e as nuances de cada personagem que vai aparecendo ao longo das 100 edições publicadas originalmente de forma separada, percebe-se que trata-se de um grande plano, cheio de interesses obscuros, muita ganância e doses absurdas de violência e sexo, além de um monte de outras coisas pequenas ou grandes que tornam a história mais interessante e complexa a cada edição e pequenos contos que acabam por complementar e enriquecer a grande trama.

A grande história a que me refiro é a do Cartel, organização criminosa formada por 13 famílias que existem desde a fundação dos Estados Unidos e, por baixo dos panos, dominam o mundo à sua maneira, influenciando na história da humanidade por meio de assassinatos, subornos e vários outros crimes. Os minutemen, comandados pelo Agente Graves, são seus cães de guardas, sete pessoas altamente treinadas e que seguem um rígido código cuja função primordial é impedir que essas famílias se matem a fim de conquistar cada vez mais poder dentro do Cartel.

Pôster da publicação apresentando vários de seus personagens mais importantes


Mas o que acontece quando alguma dessas famílias tenta destruir os minutemen para conseguir exatamente aquilo a que eles estavam dispostos à dar suas vidas (e a de mais um monte de gente junto) para impedir?  No decorrer das edições percebe-se que este é que é realmente o início real da história e que o Agente Graves tem motivos muito mais profundos e sombrios em sua mente que simplesmente ajudar alguém a descobrir que acabou com sua vida e dar as ferramentas para se vingar. No fundo, acaba sendo uma história de vingança (como a maioria das boas histórias), mas não apenas pequenas vinganças pessoais, egoístas. Uma vingança muito maior, daqueles que dariam tudo para cumprir sua missão, mas são traídos de forma vil em busca de poder.

Anteriormente, 100 Balas foi publicada no Brasil em duas ocasiões, em ambos os casos de forma incompleta, pela Ópera Graphica (em edições isoladas e posteriormente, encadernados) e pela Pixel Media (em um formato de revista, mas com algumas edições em cada volume), A editora Panini, a princípio começou maio ou menos do ponto de onde a Pixel parou, que seria o terceiro encadernado e foi seguindo em frente, posteriormente, lançando os primeiros, até, enfim, encerrar finalmente a história no Brasil. Atualmente a Vertigo está lançando nos Estados Unidos Brother Lono, um spin-off da série produzido pela mesma equipe, com um dos personagens mais interessantes e casca-grossa já criados para as HQs.

Capa da edição n° 100, epílogo da HQ
Nos Estados Unidos, a história foi dividida em 13 encadernados (coletânias com edições com arcos de história), mas a Panini optou por dividir no Brasil os dois maiores em dois, fechando com 15 volumes, quase todos fáceis de achar nas comic shops espalhadas pelo país e também na internet. Antes de esquecer, gostaria fazer uma menção mais que honrosa ao responsável pelas capas, Dave Johnson, que são um show a parte e merecem destaque nesse texto por conseguirem captar a essência de cada história, transformando em uma única imagem carregada de sentidos, principalmente depois que se lê a edição. Outra coisa é o merecido parabéns à editora Panini, que em pouco mais de três anos conseguiu concluir essa publicação no Brasil, missão que até então tinha se mostrado impossível pelas editoras anteriores, dado o tamanho da obra e as oscilações do mercado.

Minha intenção é tratar de cada volume de forma isolada aqui neste blog, contando um pouco de cada arco, o que pretendo fazer de forma lenta e gradual, dado o tamanho da missão a que me proponho e o afinco com que pretendo fazer cada leitura e crítica. Espero que este texto sirva como um pequeno intróito dessa obra magnífica que faz valer a pena gastar um pouco de seu tempo e dinheiro acompanhando uma boa história.