
Como você leitor da
Taverna já deve saber está em produção pelo canal americano
NBC (talvez, não por muito tempo) a série de tevê
Constantine, baseada em
Hellblazer, série em
HQ mensal mais longeva da
Vertigo (selo adulto da
DC Comics). A intenção desse texto é fazer uma pequena análise do andamento da série até o momento, relacionando, principalmente com a expectativa que se tinha sobre produção e se ela foi atendida ou se ficou aquém, claro, na opinião desse que vos escreve, claro, o que dá margem à discussões que estão e sempre estarão abertas nos nossos comentários.
Pra ambientar um pouco o leitor menos iniciado no mundo de John Constantine, o personagem foi criado pelo mago mestre das HQs Alan Moore (V de Vingança, Watchmen, só pra citar algumas) ao lado de seus parceiros em sua passagem pela HQ do Monstro do Pântano Stephen Bissette, John Totleben, como um personagem coadjuvante no arco Gótico Americano do "pantanoso", que o apresentou como um mago britânico sacana com a cara do cantor Sting que adora um humor negro, inclusive pregando peças em seres poderosos como anjos e demônios, entre outras atividades não muito indicadas aos de coração mais fraco.
Pois é. A trama na mídia original tem toda uma pegada “Sugerida para Leitores Maduros”, com tramas que mesclam elementos de magia, horror, violência, sexo e demônios que desejam conquistar a terra, apresentando o protagonista como um assíduo fumante, beberrão, solitário (na maioria do tempo) e que não mede esforços pra conquistar seus objetivos, nem que pra isso alguém (que não seja ele, claro) tenha que ser sacrificado. Acontece que a série de tevê produzida por David S. Goyer (roteirista da trilogia Cavaleiro das Trevas) e Daniel Cerone (Dexter, Mentalist) parece ter se baseado mais em sua versão apresentada nos na iniciativa Novos 52 da DC, que é mais jovem (e bem menos legal, por sinal), com tramas menos complexas que buscam aumentar o público, incluindo leitores mais jovens, que outrora não se interessariam por acompanhar as historias de John, exatamente por terem uma pegada mais "pesada".
Parece que depois de 300 edições de Hellblazer, cancelar a revista mensal e integrar o personagem ao universo DC tradicional, ampliando sua abrangência acabou dando certo (pelo menos até agora). Já na tevê o resultado não foi tão satisfatório, pois a NBC encomendou 13 episódios pra essa primeira temporada (que, pelo andar da carruagem pode ser também a última) e até o momento (6º episódio) não considerou os números da audiência satisfatórios e crescem cada vez mais os rumores de cancelamento da série.
Alguns problemas podem explicar o porquê da situação em que a série, que, se esperava render bons números, está na situação atual na tevê. Confira abaixo:
O canal
Um deles é o fato de estar em um canal aberto, portanto, com público mais abrangente e com limites bem mais representativos com relação a seu conteúdo que a HBO (Game of Thrones, O.Z., Família Soprano) ou a AMC (The Walking Dead, Breaking Bad). Ou seja, o público é bem mais abrangente, o que limita cenas de sexo, violência, por exemplo. Pô até mesmo o fato de John (Matt Ryan) ser um fumante inveterado (o que faz parte de sua personalidade) foi solenemente ignorado na tevê, pra não dizer que passaram por cima do fato como um trator, o que inviabiliza, por exemplo a adaptação de Hábitos Perigosos, de Garth Ennis (Preacher, The Boys), que serviu de inspiração pro filme estrelado por Keanu Reeves (Matrix).
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John ostentando seus "poderes" na série de tevê |
Os "poderes" de John
Que Constantine é "o cara" todos sabemos, mas é realmente complicado colocá-lo como um super-herói. Ele é, no máximo, um anti-herói. Um cara complicado e que vive um dia de cada vez. seus "poderes", se é que ele tem algum são sutis e estão muito mais ligados ao estudo (e subversão) da magia e encantamentos. Dificilmente veríamos o cara com as mãos pegando fogo, como aconteceu no final do primeiro episódio da série. Mais fácil seria ele levar seus oponentes na lábia e ameaçá-los, impondo medo neles, sem necessariamente ter que realmente mostrar do que é capaz. John é acima de tudo um ilusionista, um mentiroso incorrigível e isso está se perdendo nessa adaptação.
A falta de arcos de história
Outra fato que pode comprometer nos resultados é que cada episódio encerra uma história, como se fossem curtos filmes (o famoso "monstro da semana", iniciado pelo Arquivo X), com um tênue fio condutor entre eles, perdendo a característica principal da série, que é justamente a continuidade. O público acaba não se prendendo à série, pois, no fundo, tanto faz se assiste ou não a um episódio isolado, já que, no macro, não representa grande perda pra compreensão da série. Só pra citar um exemplo, Dexter, que desde sua primeira temporada contava arcos de história fechados ao final de cada uma delas, o que é bem mais interessante, pois, além de dar a noção de continuidade, ao final de cada temporada, caso ocorra o cancelamento da série, pelo menos aquela história estaria completa.
A criação de uma equipe
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Outro lance que acaba influenciando muito na qualidade do resultado final é o fato de estar se criando um grupo coeso, algumas vezes, até deixando
Constantine (quase sempre, um lobo solitário nas
HQs) em segundo plano. Temos ele, seu motorista
Chad (
Charles Halford), que estranhamente parece ser imortal (ou algo assim) e a enigmática
Zed (
Angélica Celaya), uma sensitiva que cruzou o caminho de
John no segundo episódio e desde então, o acompanha em suas aventuras.
Semelhanças com Supernatural
A pegada da série parece não ter o tom certo, se apropriando de aspectos da série Supernatural, que na verdade, essa sim, deve ter se inspirado em Hellblazer pra ser produzida. Porém, Constantine tem deixado um pouco de lado muita coisa que poderia rende histórias com mais reviravoltas, como a própria canalhice e imprevisibilidade do protagonista, que sempre consegue virar o jogo a seu favor das maneiras mais absurdas possíveis. A adaptação pra tevê acabou se tornando uma sombra de uma sombra, o que a fez perder muito pelo caminho.
Algumas possibilidades futuras
Adaptar diretamente das HQs, mudar de canal (o SyFy se mostrou interessado, mas sem confirmação até agora), reduzindo assim as muitas concessões, já poderia ser um bom começo pra maré virar a favor da série. A temática da história é adulta e esse público é que deve ser respeitado e seduzido, pra aí, sim, render boa audiência. No atual momento, ao que tudo indica, a série realmente será cancelada ao final dessa temporada.
Outra boa saída seria não atender o pedido do ator ao lado e "zerar" mesmo a série e apresentá-la com uma nova proposta de adaptação, não necessariamente com novo elenco (Matt Ryan está bem como Constantine. Ele não é o problema) pra começar “direito” e aumentar exponencialmente as chances de se atingir o sucesso esperado. Utilizar o nome clássico: Hellbalzer, já seria um bom indicativo de uma nova direção.