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sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Covers: Fazer ou não fazer?

A grande maioria dos artistas, principalmente em início de carreira, baseia seu trabalho na realização de Covers, ou seja, tocando canções de outros artistas conhecidos. Faz parte da cartilha do cantor de barzinho conhecer de cor e salteado boa parte do repertório de medalhões da MPB, como Djavan, Zé Ramalho, Caetano Veloso, Gilberto Gil, entre tantos outros. Realmente é uma labuta muito árdua começar já com trabalhos autorais. Não quero aqui criticar esses artistas. Esse é realmente o caminho a se seguir para se tornarem conhecidos e, aos poucos, um passo atrás do outro, começarem a trilhar seu próprio.

A crítica presente neste post é aos artistas já conhecidos que, na hora de escolher uma canção de outro cantor ou banda, nada acrescentam a ela, mantendo o mesmo estilo, arranjos e forma de tocar e cantar. Ou seja, apenas repetindo o que já foi feito da mesma forma que já foi feita antes. Isso sim soa, no mínimo estranho, pra não dizer desnecessário. Um artista conhecido não imprimir nada, nadinha de seu em uma canção que se propõe a mostrar ao seu público, que pode muito bem nem ser o mesmo que gosta do artista “dono” da canção.

Cássia Eller: Um exemplo de como fazer covers de outros artistas
O tempo de Covers ficou pra trás pra eles. Não se pode mais simplesmente “pagar pau” pra outros artistas indiscriminadamente até mesmo em respeito ao público já conquistado e, por extensão, à própria carreira. Os “Titãs” não são a “Legião Urbana” e quem escuta um disco da primeira, não procura escutar o da segunda, pelo menos, não naquele momento. Não quero aqui dizer que um não pode cantar canções de outro. Pode sim, se quiser, mas do seu jeito, não simplesmente reprisando o já foi feito antes. As "palavras" são as mesmas, podem ser ditas de forma diferente.

A saudosa Cássia Eller, pelo menos pra mim, é um parâmetro a ser seguido. Tudo que ela tocava ficava com a sua cara. Era visto sob um novo prisma, como se tivesse sido composto por ela ou, pelo menos para ela. E olha que cantou canções de artistas renomados (alguns até com fãs Xiitas) como Nando Reis, Cazuza e Renato Russo. Todos com seus estilos musicais bem marcantes. Só pra citar um único exemplo de sua desenvoltura: A canção “Por Enquanto” (Lançada em 1984 pela Legião Urbana) cantada por ela em seu Álbum Acústico MTV (2001) tem uma roupagem tão diferente, uma entonação tão nova, arranjos arrojados com base em instrumentos de sopro e cordas inspirados e a anos luz de distância do que foi apresentado pela banda de Renato Russo dentro de um contexto totalmente diferente.

O Guns'N'Roses fez uma ótima versão de Bob Dylan
Outro exemplo bem interessante foi a versão que o Guns’N’Roses fez de “Knocking on Heavens Door”, de Bob Dylan em 1991 no segundo volume de um de seus álbuns mais conhecidos ("Use Your Illusion"). A banda se apropria totalmente da canção, como se fosse sua mesmo, ficando muito diferente da versão de seu autor. Slash fez sua parte dando suporte à canção com um ótimo arranjo, riffs e solos de guitarra que tanto marcaram a banda e Axl Roses com seu vocal esganiçado completou a canção, uma das melhores do repertório da banda.

Sheryl deu sua "cara" à Sweet Child O'Mine

Aproveitando que falei da falecida banda, me veio também à memoria a versão que a cantora e multi-instrumentista Sheryl Crow fez de outra canção bem conhecida da banda de Hard Hock, transformando "Sweet Child O' mine" em uma balada PopRock/Coutry e mais um monte de outras influências que permeiam a carreira da artista, dando-lhe uma configuração totalmente nova e pessoal de muita qualidade.

A intenção desse texto, como tudo mais que é postado aqui na taverna não é definir parâmetros de nada, até porque que nem tenho qualificação para tanto. Apenas gostaria expor um ponto de vista pessoal e abrir espaço pra discussão com você, que é nosso leitor e principal motivo da existência e continuidade deste trabalho, que aos poucos vai ganhando um ritmo mais aceitável.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Mortes e ressurreições nas HQs: Um círculo vicioso

Gwen Stacy: morte marcante e definitiva
A morte nem sempre foi um tema muito recorrente nas Histórias em Quadrinhos (HQs) e, quando acontecia, (na grande maioria das vezes) era pra sempre. O personagem morria e ponto final. Foi assim com o tio Ben, de Peter Parker e também com a Gwen Stacy (Homem-Aranha), o Capitão Marvel (da Marvel) e, durante muito tempo, com a Jean Grey/Fênix (X-Men). 

Nos dias de hoje, principalmente por causa de uma certa morte de um certo personagem icônico da DC Comics lá no ano de 1992 há mortes e ressurreições num ritmo que, sinceramente, vem se tornando monótono ao longo do tempo e contribuindo negativamente para a qualidade do que vem sendo publicado (principalmente no mainstream) em forma de arte sequencial, conhecida carinhosamente como Nona Arte.




Primeira grande morte com retorno
A morte que pôs fim às mortes
Devido a quedas cada vez maiores nas vendas das revistas mensais do Superman, editores e o pessoal do  Merchandising da DC Comics (editora norte-americana que publica o personagem) resolveram solucionar o problema dando uma guinada total nas histórias do herói, colocando-o novamente no centro das atenções dos leitores e também de toda mídia impressa e também audiovisual. O que foi feito? Mataram o cara. E o responsável por tal feito? Um personagem que foi criado especificamente para isso: Apocalypse.

Não quero aqui dizer que a história foi péssima. Além de se tratar de uma trama razoavelmente interessante que foi prendendo a atenção enquanto rolava (no Brasil foi publicada originalmente pela Editora Abril em um encadernado em formatinho, menor que o americano), conseguiu atingir sua principal meta: ressuscitar as vendas das revistas do personagem, que já beiravam ao cancelamento e, de quebra, ainda inseriu novos personagens que originaram novas revistas a partir da fase posterior à morte do personagem. Aí foi que tudo começou a degringolar de vez.

A Marvel já matou até o Capitão América
Praticamente todo ano as duas principais editoras do mercado estadunidense (Marvel e DC) passaram a cria história com mortes de seus principais personagens como soluções fáceis para alavancar as vendas das revistas. Com isso passaram a perder as histórias, que na maioria das vezes foram ficando cada vez mais rasas ao ponto de hoje o tiro praticamente sair pela culatra, já que a morte é tão lugar comum e previsível que no ano seguinte vai ser feita uma nova campanha midiática marcando o retorno do personagem à vida.

Já mataram o Ciclope, Colossus e novamente e de novo a Jean Grey e já tão prometendo matar o Wolverine (todos dos X-Men) no ano que vem, o Batman, o Capitão América, o Visão (Vingadores) entre vários outros personagens. Alguns com histórias melhores, outros bem fracas mesmo. O preocupante disso é que nem se reflete mais sobre que se pode fazer de realmente bom para alavancar as vendas das HQs. Estão ruins? Mata o personagem que tudo vai melhorar! 

Com isso perdem os leitores, os artistas, que acabam ficando limitados a decisões editoriais que cerceiam suas imaginações, que poderiam lançar histórias bem mais interessantes, seguindo outros plots, fruto de suas próprias reflexões acerca dos personagens com que estão trabalhando. Perde também a própria mídia, como um todo que se torna previsível, num círculo vicioso e ao longo do tempo vai tornando-se desinteressante por esse motivo. Acaba-se investindo em eventos bombásticos que nada de realmente sólido acrescentam às histórias, pois, em breve, tudo volta ao status quo anterior.


Ótima edição de abertura da fase
de Grant Morrison nos X-Men
O que fazer?
Lá pelos anos 80 surgiram nas HQs autores que realmente ousaram, mesmo não sendo grandes “assassinos /ressussitadores" de personagens. Alan Moore ("Watchmen", "V de Vingança", "Monstro do Pântano"), Neil Gaiman ("Sandman", "Orquídea Negra", "Livros da Magia") e Grant Morrison ("Homem-Animal", "Os Invisíveis", "Novos X-Men", "Superman: Grandes Astros") foram os três primeiros grandes nomes do que futuramente se tornou o selo Vertigo (linha adulta de HQs da DC Comics). 

Dessas mentes surgiram histórias realmente geniais, não apenas com suas criações, mas também com personagens icônicos tanto da Marvel quanto da DC. Só pra citar coisas mais recentes, como esquecer “O que aconteceu com o Cavaleiro das Trevas”, réquiem inspirado e homenagem de Neil Gaiman fez ao Batman em apenas duas edições das HQs mensais do Homem-Morcego, ou mesmo a controversa e marcante fase que os X-Men atravessaram pelas mãos de Grant Morrison no início dos anos 2000 que gera reflexos até os dias de hoje nas revistas mutantes. Alan Moore, por sua vez, deixou de lado as grandes editoras mas tem contribuído muito para melhorar a qualidade geral do que vem sendo impresso, que o diga sua "Liga Extraordinária", formada por personagens da literatura clássica sob o ponto de vista do autor recluso.

Nem precisa ser um grande cânone como os supracitados pra fazer histórias que ao menos garantem um bom entretenimento sem ter que matar e ressuscitar personagens anualmente. Joss Whedon teve uma ótima fase à frente dos “Surpreendentes X-Men”. Brian Azarello e sua história criminal "100 balas" nos proporcionou uma viagem ao submundo da máfia norte-americana com passagem só de ida. Brian K. Vaugan é um dos mais criativos autores da nova geração, com as inovadoras e já concluídas “Ex-Machina” e “Y: O Último Homem”, ou mesmo a edição especial “Leões de Bagdá”, uma fábula atual sobre a guerra no Iraque. Jason Aaron, apesar de ser uma inconstância maior que os demais na qualidade de suas histórias, nos presenteou com "Escalpo", uma história que mostra a degradação da cultura indígena no cenário atual, recheada com balas, drogas e sexo, sem poupar o leitor de nenhum detalhe obscuro.

Leões de Bagdá: Uma outro olhar sobre a guerra no Iraque
Boas histórias não precisam ser cerceadas. Basta apenas deixar os artistas fazerem o que nasceram pra fazer que daí, mesmo sem forçar muito a barra, podem sair verdadeiras pérolas que ficarão marcadas para sempre. Nem sempre é preciso brincar com um tema tão sério e definitivo para se contar uma história de entretenimento de forma eficiente e satisfatória, agradando leitores e gerando lucros às editoras. Pode ser um caminho um pouco mais complicado, mas com isso todos ganham.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Desvendando os clássicos do Rock (nunca é tarde demais)

Há muitos anos curto o Rock’Roll como estilo musical, principalmente o nacional, que, a bem da verdade, hoje sei que tem muito mais cara de PopRock. Sempre tive um pouco de preconceito às avessas com relação a esse estilo de música, pois não tinha a mente aberta às bandas seminais e enxergava as bandas nacionais que tanto gostava (sobretudo a Legião Urbana e os Engenheiros do Hawaii) como um processo a parte, totalmente diferente e isolado do que acontecia lá fora. Ledo engano.

Há algum tempo, finalmente me propus a ouvir algumas canções da banda inglesa Led Zeppelin, que, até então, só conhecia de nome. Ouvi o primeiro disco em um arquivo .mp3 que me foi passado por um amigo e, de cara, gostei muito daquela forma de expressão. Os caras faziam um som tão visceral e ao mesmo tempo tão moderno, ousado e elaborado, completo. Tudo isso ainda no finalzinho dos anos 60, início dos 70! Tudo bem que era uma época e país (guerra fria e o movimento Hippie, por exemplo) que muito contribuíram para que os sentimentos aflorassem gerando campo fértil para seu surgimento.

Formação original do Led Zeppelin
Aos poucos fui buscando os outros álbuns na intenção de conhecer melhor aquela banda que foi tão importante para a evolução do rock, entrando por várias outras vertentes musicais, como o blues, reggae, folk, jazz, entre outros, variando suas canções entre mais acústicas (algumas beirando o bucolismo de um cenário descrito por J.R.R. Talkien (autor de "O Senhor dos Anéis") em seus livros, que também exerce forte influência sobre “clima” da banda) ou mais pesadas, com vocais muitas vezes raivosos de Robert Plant. Tudo na dose exata, entre flautas, gaitas, violões de 6 e 12 cordas e guitarras distorcidas.

Só pra citar algumas das mais “carimbadas”, temos “Moby Dick”, com sua grudenta linha de guitarra distorcida, nas cordas graves, ou a introdução da controversa “Stairway to Heaven” (que muitos dizem ter uma letra repleta de mensagens subliminares), com seu lindo dedilhado executado por Jimy Page e cobiçado por todos que um dia na vida quiseram tocar violão. Não poderia aqui deixar de citar “Dy’er Mak’er”, com sua pegada reggae, quando esse estilo musical praticamente ainda nem existia (pelo menos, não fora da Jamaica) e também a cinematográfica “Kashmir”, com uma virada instrumental na introdução de tirar o fôlego até mesmo de quem não gosta de Rock e já, meio que plantando sementes pra o futuro da música, com pegadas que sugerem o que hoje se chama música eletrônica. 

O Black Sabbath: Raízes do Heavy Metal
Depois dessa, veio pra mim a, também britânica, Black Sabbath, com um som mais pesado e com um visual e letras que remetiam a histórias de terror, tão presentes em livros e filmes que já faziam sucesso nos anos 60 e permeavam e ainda permeiam a imaginação das pessoas. Com eles percebi uma ousadia diferente. Um som mais pesado mesmo. Guitarras distorcidas são a tônica. Um vocal agressivo, gritado, quase gutural de Ozzy Osborne. Riffs de guitarra inesquecíveis por Tony Iommi, como os de “Iron Man” ou “Paranoid” e também "N.I.B", ambos, praticamente sobrenaturais. Vale destacar a ótima, triste e diferente "Changes", tocada ao piano e com arranjos orquestrais (uma exceção)  Essas duas primeiras bandas podem ser consideradas as responsáveis pelo nascimento do Heavy Metal.

A banda australiana AC/DC
A última que tive acesso e, até agora, apenas um disco (infelizmente, mas contornável), mas que me deixou perplexo é AC/DC. Uma banda seminal do que hoje se entende por HardRock. Praticamente a mãe do Guns N’Roses. Não tem como ouvir Welcome to the Jungle sem entrar de cabeça também no mundo do AC/DC (pelo menos, quem já ouviu alguma coisa dos caras). “Highway to Hell”, com seu riff mais que clássico. “Girls got Rhythm” é outra, presente neste mesmo álbum, que é um show à parte. Outra, muito “foda”, porém de outro álbum é a “Back to Black”, também lembrada com uma das melhores da banda. Os riffs iniciais da canção tocados na guitarra por Angus Young

A convergência
Após essa breve iniciação principalmente com essas, mas também com outras bandas, fui ouvir novamente minhas queridas representantes nacionais do Rock e nunca mais as vi com os mesmos olhos. Vi várias formas de influência dessas e de outras bandas. Só pra dar um exemplo, lá no meio de um disco da fase madura da Legião Urbana (V), tem uma canção chamada “Metal Contra as Nuvens”. Quem já ouviu “Stairway to Heaven” (Led Zeppelin) ao menos uma vez e tem o mínimo de senso musical, deve perceber a proximidade musical que há entre as duas, tanto letra quanto música parecem dialogar uma com a outra em muitos momentos. Conhecer o Led Zeppelin só fez enriquecer a experiência musical de uma música que eu já gostava tanto.

Assim como essa, há outras que não vou expor aqui por falta de espaço e também porque, infelizmente, me fogem à lembrança. Aproveito a deixa pra dizer que em breve farei uma espécie de resenha de alguns dos discos aqui citados para que você também possa deixar seu comentário sobre eles. Aliás, se quiser, pode deixar nesse texto mesmo suas críticas (construtivas sempre, por favor), sugestões ou, quem sabe, ideias para novos textos.