Categorias

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Confissões de Adolescente - O Filme recicla e aprimora a fórmula do sucesso

O novo quarteto adolescente posa pra foto com o pai
Se você, como este escrevinhador, teve o ensejo de viver os anos de sua adolescência na, hoje distante (e estranha!), década de 90 deve se lembrar da série de tevê “Confissões de Adolescente”, que foi ao ar pela TV Cultura entre 94 e 96 e narrava a história de Paulo (Luís Gustavo) um pai viúvo e suas quatro filhas adolescentes repletas de espinhas, revoltas, questionamentos, curiosidades e descobertas, entre outras coisas. Pois é. Toda essa introdução é só pra dizer que o filme homônimo dirigido por Daniel Filho (que está no cinema desde o início do mês) pode ser um ótimo entretenimento tanto pros hoje tiozinhos e tiazinhas que curtiam a série de tevê quanto pros seus filhos e sobrinhos adolescentes.

Assim como a série de tevê, o filme é uma viagem ao imaginário adolescente e todos os seus “grilos”, como primeiro beijo, primeira vez, primeiro emprego, timidez, preconceito contra o diferente ou mesmo todas as bobeiras que tanto nos acompanham nessa época da vida. Uma grande sacada do filme foi a atualização, com o uso das redes sociais como o local onde são feitas as tais confissões. Os jovens estão sempre tuitando ou acessando sua página no facebook, sem medo de fazer merchandising gratuito pra essas redes sociais.

O pai das garotas continua se chamando Paulo (agora interpretado por Cássio Gabos Mendes) e as ainda quatro meninas agora têm outros nomes: Tina (Sophia Abrahão), Bianca (Isabella Camero), Alice (Malu Rodrigues) e Carina (Clara Tiezzi), formando um elenco principal afinado, com atuações inspiradas, apesar da pouca idade das moças, todas excelentes atrizes.

A trama mistura drama, humor e preconceitos na medida certa. Às vezes misturando tudo dentro de um mesmo contexto, com resultados inusitados e interessantes. Impossível não lembra da cena da primeira vez de uma das garotas com seu namorado, tanto  o momento em si quanto o posterior. Se você assistiu vai entender do que estou falando, se ainda não, quando vir vai lembrar na hora.

O elenco de apoio também é ótimo, salvo raras exceções, acrescentou muito ao filme, que, assim como a série, não abre concessões e trata de forma amoral, despida de juízo de valores, temas que fazem parte do cotidiano adolescente sem se prender às regras, mas sim às vivências dessa fase conturbada da vida, de forma honesta.

As adolescentes de outrora têm participação especial
Menção honrosa à participação das outrora adolescentes Maria Mariana (autora do livro que deu origem à peça, série e filme), Georgiana Góes, Daniele Valente e Deborah Secco, que foram protagonistas da série de tevê e aparecem já maduras, como uma forma de evolução de suas antigas personagens, apesar dos nomes diferentes, rendendo algumas situações hilárias, sobretudo Deborah e Daniele, que representam mães de adolescentes de hoje.

Vale a pena conferir. É uma prova de que o cinema nacional, que ultimamente tem lançado tanta porcaria, ainda tem salvação.



quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Lançamento de "Por Dentro do Máscara de Ferro", de Bernado Aurélio

Cartaz de lançamento da HQ
Hoje à noite Teresina-PI sediará um importante evento no mundo dos Quadrinhos: o lançamento da HQ “Por Dentro do Máscara de Ferro”, do quadrinhista piauiense Bernardo Aurélio. De acordo com o autor, o personagem foi criado por ele de forma totalmente despretensiosa há mais de dez anos, como uma sátira a conceito de super-heróis norte-americanos tão conhecidos do grande público, como Batman, Homem-Aranha, Superman, entre outros.
“O Máscara não tinha um passado. Era só um cara com máscara de solda na cara e um cano de ferro na mão enfrentando bandidos na rua. Ele nasceu da pergunta: como seria um super-herói piauiense? Então o Batmóvel virou uma Kombi velha, o cinto de utilidades virou um cinturão daqueles de metalúrgico, com um monte de apetrechos comuns”, comenta Bernardo, que lançou em 2009 uma outra interessante HQ “Foices e Facões”, que conta a participação de piauienses no processo de independência do Brasil, produzida em parceria com seu irmão, Caio Oliveira e ainda produziu uma história da "Turma da Mônica" para um livro em homenagem a Maurício de Sousa.

Criatura e criador
Bernardo comenta ainda que a HQ foi feita com todo cuidado e carinho e conta uma história sobre obsessões e sonhos. O resultado final é um produto de qualidade aos leitores, com acabamento gráfico caprichado, servindo ainda como forma de incentivo ao lançamento de outros artistas piauienses que por qualquer motivo não acreditavam na possibilidade de publicação de suas obras.

A obra oferece ainda uma experiência multimídia e interativa através da trilha sonora inusitada que pode ser baixada clicando aqui. O lançamento será na livraria "Quinta Capa Quadrinhos",  localizada à rua Dirce Oliveira, 3047, Ininga, na Zona Leste de Teresina. 

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Escalpo: Uma Mudança Violenta de Paradigmas nas HQs americanas

arte de capa do primeiro
encadernado por Jock
Índios nas HQs? Você, antigo leitor da mídia, já deve estar pensando que vou falar aqui de algo parecido com "Tex", o famoso “fumetti” (HQs italianas) ou algo parecido. Ledo engano. "Escalpo" (“Scalped”, no original) é uma publicação da "Vertigo" (selo adulto da DC Comics), de Jason Aaron (roteiro) e JM Guéra (arte) muito mais próxima das temáticas de crime organizado, como a série de tevê “Sopranos”, com uma história tensa, violenta e bem contada, lembrando alguns aspectos da (também ótima e recém-encerrada) “Breaking Bad”. O clima da série mistura ainda aspectos da literatura de “Noir” (livros policiais ambientados na época da grande depressão) e "Western" (filmes de faroeste). Calma que daqui a pouco você vai entender do que estou falando.

Escalpo mostra a trajetória de decadência da reserva indígena norte-americana Oglata Lakota “Rosa da Pradaria”, a partir de atos de um grupo de militantes a favor das causas indígenas que culminou com o assassinato de dois agentes do FBI na década de 70. Os suspeitos do crime foram Lincoln Corvo Vermelho, Gina Cavalo Ruim (mãe de Dashiel “Dash” Cavalo Ruim, já falo sobre ele), "Apanhador" e Lawrence Bealcourt, único que ficou preso pelo crime (os demais foram soltos por falta de provas).


Sobre Dash...
Após quinze anos fora da reserva (alguns no exército dos Estados Unidos) Dash retorna à sua terra natal como um sujeito revoltado (principalmente contra sua mãe) e disposto a trabalhar como uma espécie de “segurança” ou “braço direito” do, hoje líder tribal da região, dono do "Cassino Cavalo Louco" e chefão da rede tráfico de drogas e prostituição no local, Corvo Vermelho.

Dash na verdade é um agente a serviço do FBI, cuja missão é exatamente se infiltrar cada vez mais fundo nos negócios criminosos do líder tribal a fim de colocá-lo atrás das grades, principalmente devido a uma rixa antiga entre ele e o agente Earl Nitz, chefe de Dash, que apesar da prisão de Lawrence Bealcourt, acredita que o verdadeiro responsável pelos assassinatos é Corvo Vermelho. A fim de ajudar nas investigações e investigar também a fidelidade do próprio Dash, Nitz enviou um segundo infiltrado na organização, o imprevisível Diesel, que deu dor de cabeça pra muita gente e rendeu boas histórias.


Jason Aaron: A mente por trás da história
Sobre o roteiro e a arte...
A história é contada de forma não-linear (repleta de importantes flashbacks) e os protagonistas vão mudando no decorrer da trama, ora mostrando tudo sob a ótica de Dash, ora Carol (filha de Corvo Vermelho, que, por acaso tem uma forte relação com Dash), outras vezes o próprio Corvo Vermelho ou Gina Cavalo Ruim, além de outros coadjuvantes, como Dino Urso Pequeno, que em determinado momento roubou a cena durante um arco inteiro da série. Interessante que apesar dessas constantes mudanças de protagonistas (ou pontos-de-vista) a série vai crescendo em sua “mitologia”. Nada está ali por acaso. Tudo conta na trama maior, que é a própria decadência da reserva e de todos os seus habitantes, sem exceção.

Arte interna em cena de 
ação por JM Guéra
O roteirista é ousado na forma de narrar a história. Às vezes praticamente sem diálogo, mas com recordatórios que dizem muito sobre a essência dos personagens. A arte do co-criador, RM Géra, presente na grande maioria  das edições da série é bela, ousada e expressiva, diferente da grande maioria do que temos por aí hoje em dia. O artista retrata muito bem as características de cada personagens e suas expressões, sobretudo de dor e desespero. Tudo em uma anatomia correta, com ótimos detalhes dos tecidos das roupas e ambientação das passagens da história, algumas se passando em salas de apartamentos, outras em trailers e outras ainda no meio de uma floresta repleta de neve.

O que aproxima das séries de teve supracitadas são as situações em que os personagens são colocados o tempo todo e decisões acabam tomando, umas mais próximas do que poderia acontecer com qualquer um de nós, outras totalmente surpreendentes (mas também possíveis), ampliando a complexidade tanto da história quanto dos personagens, que estão dispostos a tudo para conseguir o que querem, incluindo aí assassinatos, tortura, aborto, tráfico ou uso de entorpecentes entre outras coisinhas. Não procure vilões nessa série, pois você não vai encontrar. Não se trata de uma luta entre o bem e o mal, mas sim a colisão de vários egos, sem juízo de valores, pois se você fizer isso, ninguém se salva.

Corvo Vermelho e Dash em arte
de capa de uma edição da série
Escalpo se torna mais interessante devido a ser uma publicação original em um país com tradição de segregação e preconceito e genocídio contra as nações indígenas ao ponto de serem na grande maioria das vezes retratados em suas obras (filmes, quadrinhos, séries de tevê, livros, etc.) como os vilões da história ou relegados a personagens secundários, como é o Tonto, que é um sidekick (espécie de parceiro) do "Cavaleiro Solitário". Aqui os personagens centrais são indígenas, mudando completamente o status quo a que todos estávamos acostumados.

A série teve foi publicada mensalmente nos EUA a partir do início de 2007, encerrando-se no final de 2012, completando 60 edições e vem sendo publicada mensalmente no Brasil na revista "Vertigo" (panini). Escalpo é sem dúvida a melhor do mix oferecido pela revista e atualmente já está em sua reta final (hoje na edição 53).



segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Marvel x DC também nos cinemas e animações

Outro dia comentei em algum lugar aqui na Taverna que a Marvel inovou expandindo seus personagens como habitantes de um mesmo "universo" (principalmente, na cidade de Nova York) e constantemente se encontrando ora como aliados ora como inimigos, tornando recorrentes os famosos “Crossovers” (encontro de personagens de publicações diferentes em uma mesma revista) e conseguiu fazer o mesmo no cinema, criando, a partir do primeiro filme do "Homem de Ferro", um Universo Marvel coeso nas telonas que hoje já se expande pras telinhas em séries de tevê e computadores ("on demand") mundo afora, se tornando, sob raras exceções (alguém sussurrou Nolan aqui?) a editora que mais levou personagens à outras mídias com resultados satisfatórios.
... e atacam também na tevê
Personagens da Marvel avança nos cinemas...
Quando se trata de filmes em animação para o mercado “Home Video” a situação se inverte e quem sai na frente é a DC, que tem adaptado várias de suas sagas clássicas e outras mais recentes com um trabalho primoroso de animação e ambientação, respeitando a obra original e buscando reproduzi-la com o máximo de precisão possível até mesmo o traço do artista que desenhou as HQs adaptadas.

Entre as grandes sagas da DC estão "Batman
O Cavaleiro das Trevas"...
Para se ter uma ideia já saíram pela Warner Bros. (empresa a qual a DC Comics pertence) adaptações animadas de importantes sagas clássicas como “A Morte do Superman” (Dan Jurgens e vários outros artistas), “Batman: Ano Um” (Frank Miller de David Mazuchelli) e “Batman – O Cavaleiro das Trevas” (Frank Miller) e outras mais recentes, como “DC: A Nova Fronteira” (Darwin Cooke) ou Supeman Grandes Astros (Grant Morrison e Frank Quitely), enquanto a Marvel, mesmo com tantas sagas e personagens interessantes, insiste em lançar animações originais e que não chegam nem perto do brilhantismo de obras como a “Saga da Fênix Negra” (Chris Claremont e John Byrne) ou “Demolidor – O Homem Sem Medo” (Frank Miller e John Romita Jr).

...e "A Morte do Superman"
A Marvel tem “inovado” no cinema, quando repete o que desde a sua aurora tem feito nas HQs, até mesmo obrigando novamente a DC a correr atrás do prejuízo, mas tem "marcado toca" quando se fala em animações feitas diretamente para serem vendidas em DVD e Bluray. Nesse caso específico, o exemplo a ser seguido é o da DC, que une qualidade de produção à boas histórias enquanto a Marvel aqui acolá tem lançado alguma coisa (muito pouco) e com qualidade bem aquém do material da concorrência. Pode até ser uma escolha da editora, investir mais nos cinemas mesmo, mas não se pode negar que nesse mercado a DC está anos-luz à frente da nossa querida "Casa da Ideias".

Agora é esperar pra ver o que o futuro nos reserva. A concorrência pode tanto ser boa (quando se busca qualidade), quanto ruim (quando o foco é apenas a quantidade). Tomara que o futuro nos reserve boas novas por parte das duas editoras tanto nos cinemas quanto no mercado direto para "Home Video".