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Arte de capa da HQ |
Com Daytripper não foi diferente. Uma história cheia de nuances que nos apresenta Brás Oliva Domingos e variadas possibilidades de sua trajetória, principalmente, diferentes possíveis pontos finais para ela. Nosso protagonista, batizado pelos gêmeos com Brás em homenagem ao clássico da literatura brasileira e universal que sob vários aspectos dialoga com a história que propõe na HQ: Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis (O Alienista, Dom Casmurro), é filho de um escritor best-seller brasileiro que sonha em seguir os passos de seu pai enquanto trabalha como redator de obituários de um jornal, o que parece ser pouca coisa, mas em alguns momentos da história, surpreendentemente, se torna a profissão mais importante do mundo. Só lendo pra saber.
A história é uma ode ao afeto, nos levando com sua arte bela, lírica/onírica e sem firulas a momentos que todos nos identificamos, como as brincadeiras da infância, o primeiro beijo, aquela viagem inesquecível ao litoral, uma paixão arrebatadora por uma bela e misteriosa mulher, a longa estrada até a realização profissional, o encontro com o grande amor da sua vida, entre várias experiências comuns a todos nós. Acompanhamos Brás por todas essas experiências e seus diferentes epílogos e ficamos naquela, pensando qual sentido tem um ponto final sem realizar tantos sonhos e desejos que enclausuramos em nosso peito. No fim das contas é uma história sobre viver cada dia como se fosse o último, aproveitando a vida ao máximo, amando, desejando, lutando, acertando e errando, sempre buscando essa tal felicidade, que tantas vezes parece ser inatingível, mas vale muito a pena dedicarmos nossa vida a chegar ao menos próximo dela, nem que seja apenas uma de suas múltiplas facetas.
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Essa bela arte é pra você entender melhor o motivo dos adjetivos lírico/onírico, usados no texto |
Daytripper foi um marco não só na carreira dos brasileiros, como também pra evolução das próprias HQs, tantas vezes recheadas com histórias coloridas e descerebradas. Pra se ter uma ideia, os caras conseguiram uma coisa inédita (pelo menos, não me lembro de outro caso) de autores brasileiros entrando com tudo e pela porta da frente em uma das maiores editoras do mercado norte-americano com uma proposta totalmente inovadora e autoral, emplacando grande sucesso de vendas (e passou semanas na lista de mais vendidos no New York Times) e reconhecimento, conquistando importantes prêmios, como o Eisner e o Eagle. Anteriormente a maioria dos artistas de outras nacionalidades era vista como simples terceirização da mão-de-obra, sobretudo desenhistas, a fim de reduzir custos de produção. Com Moon e Bá foi diferente. A qualidade de seu trabalho os levou ao reconhecimento como os excelentes autores que são, inclusive, hoje já têm outros trabalhos publicados por lá com diferentes parceiros, como Umbrella Academy e Casanova.
*A HQ foi lançada por aqui em 2011 pela Panini Books em edição encadernada com duas opções de acabamento (capa dura ou capa cartão), ambas com miolo em papel couché de ótima qualidade, inclusive, já ganhou reedição desde então, ainda podendo, com sorte, ser encontrada em algumas lojas virtuais.
**Após escrever esse texto descobri que a edição em capa dura de "Daytripper" ganhou reimpressão e está no checklist deste mês de dezembro da Panini. Imperdível pra quem ainda não tem esta excelente obra.
**Após escrever esse texto descobri que a edição em capa dura de "Daytripper" ganhou reimpressão e está no checklist deste mês de dezembro da Panini. Imperdível pra quem ainda não tem esta excelente obra.