
A apresentação (sem grandes firulas, mas beirando à perfeição), teve início por volta de 1h, durando pouco mais de 60 minutos (suficientes e muito bem aproveitados), repletos de sucessos e também de surpresas muito bem vindas que permeiam a discografia do músico. A banda, que, a princípio, me parecia incompleta por não ter guitarrista solo, mostrou grande entrosamento com seus teclados, instrumentos de sopro (saxofone e flauta), de percussão (com zabumba bastante presente), contrabaixo elétrico (sempre com arranjos bem marcantes em todas as canções) e um violão solitário tocado de forma inspirada pelo próprio Zé Ramalho, acompanhando sua voz grave e marcante. A ausência da guitarra, que achei que seria forte, praticamente nem foi notada ao longo da apresentação, com os solos sendo supridos ora pelos teclados, ora pelo sax, também muito presente e bem executado.
As letras das canções, como toda a carreira do artista, mesclavam vários aspectos de sua personalidade e influências diversas, que vão da literatura clássica greco-romana (“A Odisséia” e “A Ilíada”), passando pelas tradições nordestinas (cordel, histórias de cangaço e tradições de violeiros nordestinos), até as Histórias em Quadrinhos, como fontes de inspiração. Seu estilo musical também é bem diverso do que se vê por aí, tendo fortes pinceladas de artistas tão diferentes, como Bob Dylan, Beatles, Jovem Guarda, Raul Seixas e também o rei do baião, Luiz Gonzaga (impossível não citá-lo), entre outros.
A empatia do público pelo artista era tão forte que no momento em que foram entoadas canções como “Avôhai” (praticamente um mantra) e “Garoto de Aluguel”, ambas de forte tom autobiográfico ou a mais que “carimbada”, "Admirável Gado Novo", mais parecia que a platéia entrava em um êxtase coletivo juntando-se à visão de mundo com o poeta, que naquele momento, estava mais profeta que pregava seus versos para àquelas pessoas que se mostravam tão atentas a tudo que ele dizia.
Uma das surpresas do show foi iniciar-se com a versão de uma antiga canção de Bob Dylan “O vento vai responder (Blowin'in the wind)”, já de cara, mostrando que não estava ali para explicar nada, mas simplesmente para dizer o que tinha para dizer, o que fez de forma praticamente ininterrupta (Sério). A idade parecia não pesar tanto no corpo daquele trovador sexagenário (que, inclusive, recentemente teve sérios problemas de saúde), que praticamente emendava o último acorde de uma canção ao primeiro da seguinte, sem parar ou deixar as pessoas pararem para respirar.
Vale ressaltar a inteligência do artista e sua banda, que os levou a fazer alterações no arranjo de algumas canções mais lentas, transformando-as em xotes bem dançantes, dando maior fôlego à toda a apresentação. A única ausência que realmente foi sentida (pelo menos por mim) foi a canção “Jardim das Acácias”, que considero a melhor composição do artista, mas entendo, devido não ser tão conhecida quanto várias das demais canções do seu ótimo repertório.
Abaixo um trôpego setlist do espetáculo, pois, no momento do evento, a última coisa que eu tinha vontade de fazer era anotar de forma organizada as canções. Por isso pode estar faltando ou sobrando uma ou outra canção, mas o grosso está lá.
Setlist do Show:
1. O vento vai responder (Blowin'in the wind)
2. Avôhai
3. Entre a serpente e a estrela
4. Frevo mulher
5. Garoto de aluguel
6. Medo da chuva
7. Gita
8. Vila do sossego
9. Chão de giz
10. A terceira lâmina
11. Táxi lunar
12. Eternas ondas
13. Banquete de signos
14. Admirável gado novo
15. Mulher nova, bonita e carinhosa faz o homem gemer sem sentir dor
16. companheira de alta luz
p.s. Você pode até achar que seria meio deslocado um texto sobre o artista aqui apresentado, mas, basta ouvir qualquer canção sua para perceber que além de um ótimo compositor, músico e cantor, Zé Ramalho, é sim, muito Pop, fazendo um mix de vários estilos, mantendo-se como um artista autêntico e inimitável de nosso cancioneiro. Caso você não tenha tido a oportunidade de conhecer o artista e tenha se interessado, o site é um ótimo começo. Clique aqui e confira.