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quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Neil Gaiman é destaque entre os recentes relançamentos no mercado brasileiro de HQs

O autor inglês  caminhando pelas ruas de Londres
Há algumas luas escrevi aqui na Taverna que o mercado brasileiro de HQs vem passando por um momento de relançamentos de grandes obras de artistas renomados. Na ocasião, cheguei a citar as ótimas “O Reino do Amanhã”, de Mark Waid (Roteiros) e Alex Ross (Arte), “V de Vingança”, de Alan Moore (roteiros) e David Lloyd (arte), entre outras obras de grande relevância dentro e fora da “nona arte” (como são carinhosamente conhecidos). Observando este aspecto dentro do contexto atual de nosso mercado de HQs, é possível perceber a presença marcante dos trabalhos do escritor multimídia Neil Gaiman, um dos mais influentes no ramo há mais de duas décadas, tanto que já escreveu livros e participou como roteirista de séries de tevê e filmes, como “A Lenda de Bewulf”, por exemplo.

Só pra citar os lançamentos mais recentes relativos a obras de sua autoria ou a gama de personagens que criou, tivemos o quarto volume de “Sandman – Edição Definitiva”, com mais de 600 páginas (e preço salgado), que concluiu a compilação das 75 edições da série, lançadas originalmente em revistas mensais, a edição especial em capa dura com as quatro números minissérie “Livros da Magia”, um passeio pelo mundo mágico guiado por personagens sombrios da DC Comics,  também escrita por Gaiman e “Dias da Meia-Noite”, uma compilação de contos de vários personagens do universo DC escritos por Gaiman lá no início de sua carreira, em meados dos anos 80, antes mesmo de sua explosão como grande nome das HQs.
Capa do da edição brasileira 
de Absolute Sandman Vol. 4

O interessante das obras desse autor em específico é que ele as trata como se fossem vários aspectos de uma mesma grande história, com as atitudes de um interferindo na vida de outros de forma direta ou indireta.  Elas transcendem em muito os limites da mídia específica, passando para a literatura inglesa (Shakespeare é uma constante), referências a várias mitologias, música pop, a própria história da editora, entre várias outras referências que só têm a acrescentar na experiência da leitura, tornando tudo como parte de um grande plano coeso. Não que, caso você desconheça suas demais outras obras ou múltiplas referências não vá gostar de uma isolada. Vai entendê-la, mas não perceberá algumas pistas deixadas pelo caminho, se não tiver um olhar um pouco mais treinado. Com isso, podemos aproveitar ainda mais a leitura.

Os sete perpétuos, por exemplo, mais do que as divindades tão presentes na história da humanidade (que são passageiros, com apogeu e decadência), são a personificação de aspectos da vida de todo ser vivo (sonho, morte, desejo, por exemplo). Existem desde sempre e até o fim dos tempos (se é que eles terão um fim) perpassando de uma forma ou de outra cada linha escrita pelo autor nas mais diferentes obras. Impossível não reparar na presença de Destino nos “Livros da Magia” num momento de pura poesia, finalmente concluindo seu trabalho (Se você já leu a obra ou for ler no futuro vai entender do que estou falando).

Um passeio pelo mundo
fantástico da DC
Gaiman não é pra qualquer pessoa (No bom sentido!). Não espere uma leitura cheia de ação e soluções simples e maniqueístas, com heróis e vilões bem definidos. As soluções nunca são simples e os personagens sempre têm várias facetas (e serão vistos de diferentes formas) assim como cada um de nós. É HQ, mas não é pra criança. Lá há violência, sexo, amor, desespero e medo em diferentes doses, dependendo do momento (quase sempre o mais acertado). A sensibilidade do autor é tremenda ao ponto de “vivermos” as histórias, reconhecendo os personagens como pessoas iguais a gente, que trocam suas experiências boas ou ruins conosco, a ponto de sofrermos e sorrirmos com eles sem percebermos. 

Contos oitentistas de
ótima qualidade
Há tempos esse autor não estava tão presente em nossas livrarias, bancas de revistas e estantes, sempre restrito a pequenos grupos, que poderiam até ser considerados excluídos ou mesmo se isolarem das outras pessoas por curtirem tanto obras que pouca gente conhecia. Há vários preços para vários bolsos, o que também, infelizmente, acaba excluindo muita gente, mas a disponibilidade de material “gaimaniano” é realmente sem precedentes em nosso mercado e sempre há as pré-vendas e promoções, sobretudo na internet, que acabam potencializando o número de leitores dispostos a gastar alguns reais com material sempre de ótima qualidade ofertado por este escritor que consegue transcender limites que tantos outros não conseguem de forma satisfatória. Na pior das hipóteses, há os controversos scans, que, tirando todo o lado ilegal e pernicioso à indústria de HQs, pode servir como porta de entrada informal a esse mundo e, democratizando o acesso às obras e, quem sabe, abrindo caminho para novos leitores dispostos a adquirir a obra física, atualmente publicada por algumas editoras, como a Conrad, Rocco (sobretudo seus livros tradicionais) e a Panini, principalmente obras em HQs, que é o motivo desse post.  

Demorei a escrever sobre o autor não por falta de interesse, mas por procurar a ocasião propícia e inspiração necessária e agora que chegou, não vou mais parar. Sandman, por exemplo, agora mais do que nunca está com chances concretas de invadir os cinemas e em breve devemos ter novidades. Aqui na taverna teremos resenhas de algumas importantes obras desse influente autor, que merece ser lido e discutido por horas a fio (Os comentários estão aí pra isso). O primeiro passo foi dado, agora é sua vez.   

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