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quarta-feira, 18 de março de 2015

Lançamento de capa alternativa polêmica de Batgirl #41 é cancelada pela DC

A capa alternativa da discórdia
No final da semana passada a editora DC Comics apresentou ao público uma futura capa alternativa da edição 41 de Batgirl prevista pra junho no mercado norte-americano que acabou gerando  muita polêmica na web. A ilustração feita em homenagem aos 75 anos de criação do Coringa é uma criação do desenhista brasileiro Rafael Albuquerque (Vampiro Americano) e mostra uma Batgirl/Bárbara Gordon apavorada chorando enquanto é abraçada de forma ameaçadora pelo palhaço do crime, que segura um revólver em sua mão esquerda (sobre o ombro da protagonista) e pinta um sorriso sombrio no rosto da heroína. Nem precisa ser um leitor tão atento ou antigo pra saber que a cena apresentada na tal capa alternativa é uma clara homenagem ao clássico A Piada Mortal (Alan Moore/ Brian Bolland), de 1988 que mudou drasticamente e “pra sempre” (se é que “sempre” existe nas HQs) o status quo da personagem, que foi violentamente atacada pelo vilão (com insinuação de um possível estupro) que além de alvejá-la com um tiro, que acaba deixando-a paraplégica, a humilha, tirando fotos da agressão com o intuito de enlouquecer seu pai, o comissário James Gordon.

Depois de muita choradeira por parte de uma parcela dos leitores (e leitoras), alegando que a capa era inoportuna, devido às tramas mais atuais da personagem, mais direcionadas às adolescentes, o próprio desenhista resolveu solicitar à editora americana que a arte não fosse usada como capa alternativa da tal edição, com o segundo comunicado:

"Minha arte da capa variante da Batgirl foi concebida para homenagear uma história em quadrinhos que eu realmente admiro, e eu sei que é uma das favoritas de muitos leitores. "A Piada Mortal" é parte do cânone de Batgirl e, artisticamente, eu não poderia evitar retratar a situação traumática entre Barbara Gordon e o Coringa.

Rafael Albuquerque solicitou à DC
que a capa não fosse publicada
Para mim, era apenas um 'disfarce assustador' que trouxe algo do passado da personagem que eu interpretei artisticamente. Mas tornou-se claro que, para outros, ela tocou em um nervo exposto. Eu respeito essas opiniões, sejam elas certas ou erradas, pois geraram uma discussão que não deve ser desacreditada.

Minha intenção nunca foi ferir ou incomodar ninguém pela minha arte. Por essa razão, recomendei à DC que a capa variante fosse retirada. Estou muito satisfeito que a DC Comics tenha entendido as minhas preocupações e não vá publicar a arte da capa em junho, como anunciado anteriormente.

Com todo o respeito,

Rafa"


Sobre o assunto a DC se pronunciou da seguinte forma em nota oficial:

"Nós publicamos revistas dos maiores heróis do mundo, e os vilões mais malignos que se possa imaginar. As capas variantes do mês de junho são um reconhecimento ao 75º aniversário do Coringa.

Independentemente se fãs acharam que era incompatível falar sobre temas como ameaças de violência e assédio na fase atual da Batgirl, entendemos que era uma homenagem de Rafael Albuquerque ao Alan Moore, pela graphic novel 'A Piada Mortal', uma obra de 25 anos atrás.
Vamos honrar o talento criativo, e por solicitação do Rafael, a DC Comics não vai publicar a capa variante da Batgirl.".

O atual desenhista de Batgirl, Cameron Stewart disse por meio de uma rede social que ele nem ninguém da equipe criativa da HQ sequer conheciam a capa e alegou que a imagem é exatamente o oposto do que vem sendo mostrado nas histórias que eles estão produzindo, portanto concordou que a imagem era inapropriada pro atual momento e que mantê-la seria um erro que destruiria a integridade da série.

Comentário pessoal sobre o assunto:
Independentemente de qualquer coisa, vale lembrar que trata-se de uma capa "Alternativa" e "Comemorativa". O que quer dizer que não é a oficial, ou seja, só compra quem optar, escolhê-la em detrimento da capa oficial. De uma forma ou de outra o episódio acabou sendo uma censura prévia do material. O argumento de Stewart seria válido se estivéssemos falando da capa oficial, sendo alternativa, já vimos várias situações inusitadas, como versões infantis dos personagens, vilões e heróis em situações que mais parecem amizade, entre outras coisas que nada têm a ver com o que encontramos no interior da HQ, portanto, se essa “regra” vale pra esta, deveria valer pra todas as outras publicações da editora, assim expressa: “Capas (oficiais ou alternativas) devem 'obrigatoriamente' estar relacionadas ao conteúdo interno da edição”.

25 anos e ele continua
com esse sorriso insano
O mais impressionante é que Moore (V de Vingança, A Liga Extraordinária) e Bolland (Juiz Dredd, Camelot 3000) criaram essa edição cheia de violência e tensão há 25 anos e ela não foi proibida ou criticada negativamente por fãs ou pela critica, muito pelo contrário, é considerada por muitos uma das maiores histórias do Coringa e do Homem-Morcego já produzida, que contribuiu, inclusive na evolução e sedimentação das histórias em quadrinhos como um todo, que acabou deixando de ser um nicho voltado apenas à crianças e adolescentes e começou a atingir também o público mais maduro, com outras vivências e demandas.

Só espero que esse seja um caso isolado e não tenhamos uma nova caça às bruxas nas HQs onde o mais prejudicado é o próprio leitor, que não terá boas histórias devido às limitações impostas aos artistas que produzem as histórias de seus personagens favoritos. Enfim, nos resta torcer e esperar pra que isso não aconteça...

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