
Este novo review é mais um texto produzido especialmente pelo parceiro e também
"quadrinhófilo" Thiago Ribeiro, a quem a Taverna faz novamente agradecimentos especiais.
Como ter empolgação, o famoso hype, para assistir um filme fruto de um estúdio que recentemente picotou tanto um filme ao ponto de transformar em chacota os dois maiores ícones do gênero de super-heróis (Batman vs Superman) e de produzir outro filme que abusa dos momentos ruins e da péssima edição de cenas, transformando bons vilões em personagens apáticos (Esquadrão Suicida) Como buscar a empolgação após vazamentos seletivos anunciando que o filme era tão ruim quanto os que tinham sido feitos até agora pelo mesmo estúdio e, também, notar que a Warner/DC não estava gastando dinheiro na divulgação do filme, ficando claro que queria mais esconder seu produto do que divulgá-lo?
A resposta ficou claro agora: a empolgação nasce da vontade genuína com que vou assistir a todos os filmes de super-heróis e esperando ser recompensado com um ótimo filme. E, preciso dizer com todas as letras, que fui imensamente recompensado com o filme da maior heroína da era heróica, a bela Diana de Themyscira, a nossa Mulher-Maravilha. A começar pelo clima que o filme estabelece em seus primeiros momentos na Ilha Paraíso. O lar das amazonas é devidamente retratado com o que há de melhor na história da personagem, pois faz jus ao estilo desenvolvido pelo autor e desenhista George Perez (Novos Titãs, Mulher-Maravilha, Superman) na década de 80 e pelo autor Phil Jimenez (Novos X-Men, Os Invisíveis, Mulher-Maravilha) nos anos 2000. As amazonas são uma raça de mulheres forte, dando destaque para a presença sempre magnética Robin Wright, a nossa querida e detestável Claire Underwood (House of Cards), e preparadas para o conflito porvir.
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Temyscira e a Maravilhosa pós-Crise nas Infinitas Terras, no traço de George Perez... |
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... e nos anos 2000, por Phill Jimenez |

Mas o filme não se trata das amazonas, e, sim, sobre a jornada da heroína para o mundo do patriarcado em guerra. E é aqui que devesse falar do maior acerto do filme, a sua interprete principal, a Mulher-Maravilha vivida pela israelita Gal Gadot. A sua presença não é magnética como a da general Antíope de Robin Wright, pois a sua interpretação nasce da verdadeira vontade de ajudar da personagem Diana. A atriz, ajudada pelo roteiro dos dois primeiros atos, soube entender as facetas da personagem. A ingenuidade de quem não conhece um novo mundo, a empolgação em querer ajudar e a necessidade de fazer o correto, mesmo que tenha que usar da força para isso.
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A diretora Patty Jenkis soube tirar o melhorda a trajetória de Diana nas HQs |
Mas Gadot não brilha só. A presença de Cris Pine (da nova franquia Star Trek) é um dos muitos acertos do filme. O ator vive o capitão Steve Trevor, um Indiana Jones da I Guerra Mundial, menos cínico que o Indy de Harrison Ford, mas tão cativante quanto. A presença do personagem é a ponta que Diana precisa para deixar a sua ilha de isolamento, literalmente. Porém, o mérito da química dos atores se deve muito à direção orquestrada pela diretora Patty Jenkins (Monster, The Killing), que em nenhum momento diminui o papel de Trevor ante a força bruta da Mulher-Maravilha, ou vice-versa. Os dois personagens agem em conjunto, discordando em muitos pontos, mas sempre se ajudando, buscando o sucesso de seus atos, mostrando que homens e mulheres só avançam, seja no campo de batalha, seja na vida, quando trabalham juntos.
Porém, mesmo após os dois primeiros atos quase perfeitos, o filme apresenta problemas estruturais que se deve levar em conta. Primeiro são seus efeitos especiais que nem sempre funcionam, deixando o expectador desiludido com o que está vendo, mesmo que seja com um bom roteiro. Segundo, a presença de personagens secundários que apesar de ter sua função moral na trama – a secretária que é tratada como subalterna, o franco atirador que não consegue atirar devido aos terrores da guerra, o índio que é fruto de uma guerra já perdida na América e que ganha a vida levando suprimentos para o campo de batalha, e, por último, o espião que só queria ser ator – não fazem a narrativa se desenvolver, estando ali apenas como figuras demonstrativas de sua época.
Por último, deve-se citar o caso do vilão Ares. Presente no último ato e se mostrando como um deus que apenas demonstra os caminhos do conflito, o combate entre a Mulher-Maravilha e o Deus da Guerra não foge aos clichês de filmes de super-heróis que tem em seu último ato o momento mais fraco da película. Porém, o conflito dos dois não compromete os muitos méritos do filme.
Antes de encerrar, devo comentar a melhor passagem do filme aos olhos de um fã de quadrinhos e de histórias de guerras: a passagem pelas trincheiras da primeira guerra mundial. Poucas vezes, no cinema de super-heróis, houve momento mais catártico. Quando Diana, após ouvir a história de uma mulher desesperada com uma criança no colo e que teve sua vila tomada, remove a veste preta que estava usando, após ter uma discussão com Trevor, quando o mesmo afirma que é impossível se mover um milímetro naquele campo de batalha, e se mostra em toda a sua força é daqueles momentos para ficar cravado à bala na história do gênero. Ali está tudo que representa a Mulher-Maravilha: a necessidade de agir para ajudar ao próximo, o caminho da paz mesmo que seja passando pelo conflito e o sentimento de trazer alguma mudança ao mundo dos homens. Tudo isso em um momento glorioso de Gal Gadot.
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Gal Gadot também brilhou em trajes civis de época, esbanjando simpatia e dedicação em cada cena do filme |
Mulher-Maravilha se mostrou um filme acima da média do que vem sendo produzido no cinema de massa no gênero. Mostrou que a Warner/DC pode ver um caminho de luz e esperança ao confiar em seus atores e seus diretores, um filme que não foge ao clichê do último ato grandioso e derrapante, mas, acima de tudo, um filme que fez jus à maior heroína da cultura pop. Um filme maravilhoso.
Clique aqui pra ler um outro review da Mulher-Maravilha por Tarcisio Braga.
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