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quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Selvagens à Procura de Lei: A volta da rebeldia (com qualidade) ao Rock Brasil

Logo da banda remete ao psicodelismo
dos anos 70 e à  Tropicália
Há um bom tempo a cena (Pop)Rock nacional está carente de bandas realmente interessantes (e, sob certa medida, inovadoras) e foi justamente de onde menos se esperava que surgiu, antes tarde do que nunca, a bem-vinda surpresa. Formada em 2010 em Fortaleza-CE (terra conhecida pelas bandas de forró) por Gabriel Aragão (voz, guitarra e piano), Rafael Martins (voz e guitarra), Caio Evangelhista (baixo) e Nicholas Magalhães (bateria) os Selvagens à Procura de Lei ou simplesmente "SaPdL" fazem uma fusão de várias vertentes do roquenrol. Ouvindo o álbum homônimo lançado no ano passado, o primeiro do quarteto lançado por uma gravadora,  é possível viajar à várias épocas diferentes, desde os Beatles (anos 60), passando pelo Pink Floyd e Tim Maia (anos 70), Legião Urbana e Cazuza (anos 80), chegando a bandas mais atuais, como The Strokes, Franz Ferdinand ou Artic Monkeys, entre várias outras que eu, por limitação de conhecimentos musicais, talvez não tenha isolado.

A temática das letras oscila entre a MPB dos anos 70, um dos períodos de alta criatividade na música, com referências a artistas como Fagner, Belchior (“...as velas do Mucuripe vão bater no Planalto Central”, dizem eles em Mucambo Cafundó), Milton Nascimento, entre outros e do Rock/Brasil dos anos 80, principalmente por conta da rebeldia de algumas delas, como “Brasileiro”, “Massarara” e “Mocambo Cafundó” com temáticas similares ao que sentimos ouvindo “Que País é Este” (Legião Urbana) ou “Brasil” (Cazuza). Hinos de revolta contra a situação do país e a própria inércia das pessoas diante disso. Convenhamos, estava mesmo faltando rebeldia aos nossos jovens roqueiros atuais, que tantas vezes mais têm se preocupado com suas roupas ou penteado que com a música que fazem.

O quarteto consegue ser inteligente sem ser chato, como podemos conferir em “Senhor Coronel” (uma reflexão sobre o que realmente é importe na vida) ou “Crescer dói”, sobre aquele momento entre o fim da adolescência e começo da idade adulta, repleto de dúvidas e medo do desconhecido, onde a principal pergunta é: o que eu quero mesmo da minha vida?

Imagem de capa do CD da banda,
lançado no ano passado
A banda não deixa de lado as canções de amor (sempre elas!), expondo ao público sua veia romântica com muita qualidade em canções como “O amor existe, mas não querem que você acredite” (uma reflexão interessante sobre o tema), “Música de amor número um” (uma declaração endereçada à namorada de Gabriel), “Despedida” (autorreferente). Todas são reflexões sobre o tema e não apenas canções de amor escancaradas, o que já é um diferencial diante de outras tantas bandas que vemos por aí. 

Outra característica marcante da banda é que todos cantam uma hora ou outra, como vocal principal ou backing vocal (sempre corretos e bem executados). Até mesmo Nicholas, sem se distanciar das baquetas, teve o ensejo de mostrar seu lado vocalista no refrão de “Despedida”. Todos o fazem, sem com isso deixar “cair a peteca”, mantendo um bom nível vocal em todo o álbum. A banda consegue manter uma boa coesão, sem grandes oscilações que poderiam baixar a qualidade em algum momento. 

Quanto à parte instrumental, a maioria do repertório é à base de guitarras, baixo e bateria, mas há também a presença marcante de um piano eficiente em algumas faixas, sobretudo nas canções mais românticas ou reflexivas. A banda foge de simplificações, com arranjos relativamente ousados, sobretudo se comparado a outros grupos atuais. Sempre alguém está fazendo alguma coisa diferente de apenas uma simples batida nos acordes de seu instrumento, com riffs ou dedilhados interessantes à guitarra, linhas de baixo marcantes ou viradas de bateria que em muitos momentos dão aquele quê a mais nas canções.

Se você ficou curioso e quer saber um pouco mais sobre a banda, eles têm um site interessante onde além de vídeos e fotos apresentando a banda e informações sobre o que eles andam fazendo, disponibilizam algumas músicas para download gratuito e o CD da banda em formato digital à venda através do iTunes. Cliquem aqui e confira, que vale a pena, pois tem muita coisa anterior ao lançamento ao álbum aqui comentado que nos faz conhecer ainda melhor as influências e a qualidade dos som da banda. Abaixo você pode conferir o clipe de Mucambo Cafundó, lançado em 2011 pela banda, que foi apontada como grande aposta pela VMB 2012 (premiação da MTV Brasil). Entre outros importantes festivais, a banda está confirmada pra toca no Loolapalloza Brasil 2014 no próximo dia 06/04.



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