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terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Projeto paralelo é a nova onda na música (parte 1) - "Pouca Vogal"

Muitos artistas passam anos e anos fazendo as mesmas coisas sempre mais ou menos do mesmo jeito (que o digam os tiozões dos "Rolling Stones"), o que, com o passar do tempo, pode se tornar, no mínimo, maçante de tão repetitivo tocar as mesmas canções. Para fugir disso, alguns têm feito exercícios de imaginação, ousando trilhar outros caminhos, como aconteceu recentemente com a Pitty, que juntamente com seu guitarrista, Martin, lançou o Agridoce e também com Humberto Gessinger (Engenheiros do Hawaii) e Duca Leindecker (Cidadão Quem).

A dupla Gessinger+Leindecker formava o Pouca Vogal
Esse texto será dividido em duas partes para melhor falar sobre cada um desses projetos que, pelo menos pra mim, podem servir de diretrizes para que vários outros artista possam "oxigenar" suas carreiras tocando canções diferentes de formas totalmente novas e ousadas sem, para isso necessariamente perderem seu público, muito pelo contrário, podendo inclusive, expandi-lo, atingindo pessoas que até então nunca deram uma chance para suas canções.


Capa do primeiro álbum do duo
Pouca Vogal
Como dito antes, o Pouca Vogal é formado por artistas de bandas já consagradas, sobretudo a de Gessinger, que já tem mais quase trinta anos de história desde o lançamento de seu primeiro álbum em 1986 quando surgiu “Longe Demais das Capitais” nas prateleiras das, hoje raras, lojas de discos (na época, ainda no auge do formato LP).

O título do projeto é uma brincadeira com os sobrenomes dos dois artistas, amigos de longa data, que realmente possuem poucas vogais e consoantes em demasia, comum às pessoas que nasceram no Rio Grande do Sul, sobretudo de origem alemã, como é o caso deles.

Uma parceria entre os músicos já era desejo antigo de ambos que pôde ser finalmente realizado em 2008, quando as duas bandas encerravam suas turnês ao mesmo tempo, dando uma pequena folga aos músicos para que pudessem por em prática seu desejo. Gravaram o álbum: "Pouca Vogal – Gessinger+Leindecker", com oito canções cantadas e tocadas por eles usando vários instrumentos e as lançaram em .mp3 de forma gratuita em sua página na web. Logo após saíram em turnê passando por várias cidades do país. 

No início de 2009 a dupla gravou o CD/DVD "Pouca Vogal Ao Vivo em Porto Alegre" reunindo, além das canções feitas para o "Pouca Vogal", músicas do repertório das duas bandas originais em arranjos totalmente novos adaptados ao formato mais acústico e intimista do projeto e com algumas participações mais que especiais, como a orquestra gaúcha PoA Pops, regida por Fernando Cordella e Luciano Leindecker (irmão de Duca) no contrabaixo.

O projeto foi encerrado pela dupla em dezembro de 2012, mas permanece na alma dos dois que atualmente estão trabalhando em projetos solo e mais ligados ao regionalismo e voz e violão. Agora é esperar pra ver o que o futuro nos reserva. Os trinta anos dos Engenheiros do Hawaii estão quase batendo à porta.


Segundo e último álbum: múltiplos
instrumentos, vários artistas
Por que mesmo é um projeto interessante?
O "Pouca Vogal" é um projeto interessante porque, além de expôr os artistas sob um novo prisma, mostrando seu lado mais ligado à música regional, MPB e ao folk, distanciando-os daquela pegada mais PopRock a que estamos tão acostumados, ainda apresentou (pelo menos pra mim) um pouco da trajetória da "Cidadão Quem", uma ótima banda gaúcha mais recente que os Engenheiros e também com ótimas canções, como  "Girassóis", a esperançosa "Dia Especial", "Pinhal" (feita para seu irmão) e "A Força do Silêncio", uma das canções com o tom mais crítico da banda.

Os limites de serem um duo, ao invés de reduzir as possibilidades, acabaram somando, fazendo com que surgissem criativas soluções para os problemas que iam surgindo, ao ponto de  muitas vezes, chegarmos a duvidar que há apenas dois músicos no palco. Manteve-se o tom poético, mas com uma roupagem totalmente nova, uma nova forma de expressão.

Todas as canções da dupla, de uma forma ou de outra, acabam remetendo à história das bandas. Destaque para canções leves como "Depois da Curva", que tem uma levada de violão Folk pegajosa e letra grudenta, "O Vôo do Besouro", outra ótima parceria da dupla, com vocais unidos formando acordes e "Pra Quem Gosta de Nós", que remete à "Pose", canção dos Engenheiros recheada de paradoxos (como eles adoram) lançada nos anos 90, mas que ficou realmente conhecida na versão lançada no álbum "Acústico MTV" (2004) ao lado de sua filha Clara.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Revirando a estante: Conta Comigo (Stand By Me)

Se você viveu sua infância na década de 80 ou 90 (como este que vos escreve) é bem provável que se lembre do filme “Conta Comigo” (“Stand By Me”) produzido em 1986, mas constantemente reprisado na Sessão da Tarde nas décadas citadas. O filme, dirigido por Rob Reiner, é baseado no conto “The Body”, escrito por ninguém menos que o mestre do terror Stephen King e narra em primeira pessoa uma importante passagem da vida Gordie Lachance (Will Wheaton), um adolescente que sonha em se tornar um grande escritor, e seus problemáticos amigos Cris Chambers (River Phoenix), Teddy Duchamp (Corey Feldman) e Vern Tessio (Jerry O'Connell).

Logo no início da película vemos um Gordie já adulto (Richard Dreyfuss) lendo em um jornal a notícia do assassinato de Cris Chambers em uma briga de bar. A partir de então ele começa a narrar uma história pessoal que se passa no verão de 1959, na cidade norte-americana de Castle Rock, Oregon, num momento de sua vida em que ele tinha acabado de perder o irmão, se tornando, de repente, filho único. Nessa época, ele tinha apenas 12 anos e junto com seus amigos formava um quarteto inseparável que vivia em busca do que acreditavam que seriam aventuras.

Amigos inseparáveis: Teddy, Vern, Gordie e Cris (da esquerda pra direita)
Seus pais passavam por uma crise devido à perda de seu adorado filho mais velho, Denny Lachance (John Cusack) em um trágico acidente automobilístico. Denny morreu em um momento de ascensão como jogador de futebol americano, quando ele já estava quase se tornando um astro do esporte. Seus pais viviam tristes pela perda e, devido à grande diferença de personalidade entre os irmãos, comparavam-nos o tempo todo, vendo o filho mais novo como um sonhador que tinha amigos problemáticos que não serviam pra nada.

Os amigos se reuniam em uma casa na árvore pra ler quadrinhos, fumar cigarros e falar sobre seus planos mirabolantes, quando Vern (o mais abobalhado do grupo) chega e diz que soube de uma informação que poderia torná-los grandes heróis da pequena cidade em que moravam: a morte de um jovem atropelado por um trem, cujo corpo (“the body”, em inglês) estava em um local de difícil acesso e desconhecido pelas autoridades, que ele acidentalmente acabou descobrindo onde ficava. A partir de então, a meta do grupo seria encontrar o corpo e se tornarem as pessoas mais conhecidas da cidade, inclusive com suas fotos publicadas num jornal local.

O fascínio com as armas faz parte da trama
Os jovens se preparam pra grande aventura regada à conversas sobre a cultura pop da época, cigarros e escalas para manter a segurança do grupo com uma arma de fogo e aos poucos vão descobrindo mais sobre eles mesmos numa jornada acidental de auto-descoberta e percebendo que valores da amizade, companheirismo, são muito mais importantes que ser o grande herói da cidade. Eles até chegam a cumprir sua meta, encontrando o que tanto desejavam, mas naquele momento percebem que este não poderia ser seu grande troféu. Até encontrá-lo, tratavam o jovem como um objeto, algo como um tesouro a ser descoberto, mas no momento em que finalmente o encontraram, após muitas dificuldades, se tornaram adultos, amadurecendo de repente e percebendo o que realmente é importante na vida.

Ace e sua gangue deram trabalho ao quarteto
A trilha sonora do filme é um show à parte com canções da década de 50, inclusive Stand By Me, interpretada por Ben E. King, que posteriormente ganhou versão por Jonh Lennon e também conta com outros nomes conhece Jerry Lee Lewis, entre outros artistas e canções que fizeram sucesso nos anos 50, cuidando de toda a ambientação da história, nos ajudando a mergulhar naquela época de cabeça.

Destaque também para pequena, mas importante participação de um jovem Kiefer "Jack Bauer" Sutherland, como o odiado representante máximo da juventude transviada no filme, Ace Merrill, líder de um gangue que enfrenta o quarteto mais jovem para tomar para si o grande troféu.

Turma da Mônica: Laços
Curiosidade Pop: o filme foi usado como material de referência e grande inspiração pelos irmãos Vitor e Lu Cafaggi para a produção do roteiro da Graphic MSP Turma da Mônica: Laços, tão bem escrita e ilustrada por ambos, narrando uma história da turma da rua do limoeiro em busca do cãozinho do Cebolinha que havia sumido. Em vários momentos quem assistiu ao filme vai lembrar exatamente onde a cena foi inspirada, como a do Ferro Velho. Vale muito a pena conferir ambos, pois o filme está disponível tanto em Blu-ray quanto em DVD  e a HQ, que foi lançada recentemente, tem versões em capa dura e cartonada a preços justos.






sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Covers: Fazer ou não fazer?

A grande maioria dos artistas, principalmente em início de carreira, baseia seu trabalho na realização de Covers, ou seja, tocando canções de outros artistas conhecidos. Faz parte da cartilha do cantor de barzinho conhecer de cor e salteado boa parte do repertório de medalhões da MPB, como Djavan, Zé Ramalho, Caetano Veloso, Gilberto Gil, entre tantos outros. Realmente é uma labuta muito árdua começar já com trabalhos autorais. Não quero aqui criticar esses artistas. Esse é realmente o caminho a se seguir para se tornarem conhecidos e, aos poucos, um passo atrás do outro, começarem a trilhar seu próprio.

A crítica presente neste post é aos artistas já conhecidos que, na hora de escolher uma canção de outro cantor ou banda, nada acrescentam a ela, mantendo o mesmo estilo, arranjos e forma de tocar e cantar. Ou seja, apenas repetindo o que já foi feito da mesma forma que já foi feita antes. Isso sim soa, no mínimo estranho, pra não dizer desnecessário. Um artista conhecido não imprimir nada, nadinha de seu em uma canção que se propõe a mostrar ao seu público, que pode muito bem nem ser o mesmo que gosta do artista “dono” da canção.

Cássia Eller: Um exemplo de como fazer covers de outros artistas
O tempo de Covers ficou pra trás pra eles. Não se pode mais simplesmente “pagar pau” pra outros artistas indiscriminadamente até mesmo em respeito ao público já conquistado e, por extensão, à própria carreira. Os “Titãs” não são a “Legião Urbana” e quem escuta um disco da primeira, não procura escutar o da segunda, pelo menos, não naquele momento. Não quero aqui dizer que um não pode cantar canções de outro. Pode sim, se quiser, mas do seu jeito, não simplesmente reprisando o já foi feito antes. As "palavras" são as mesmas, podem ser ditas de forma diferente.

A saudosa Cássia Eller, pelo menos pra mim, é um parâmetro a ser seguido. Tudo que ela tocava ficava com a sua cara. Era visto sob um novo prisma, como se tivesse sido composto por ela ou, pelo menos para ela. E olha que cantou canções de artistas renomados (alguns até com fãs Xiitas) como Nando Reis, Cazuza e Renato Russo. Todos com seus estilos musicais bem marcantes. Só pra citar um único exemplo de sua desenvoltura: A canção “Por Enquanto” (Lançada em 1984 pela Legião Urbana) cantada por ela em seu Álbum Acústico MTV (2001) tem uma roupagem tão diferente, uma entonação tão nova, arranjos arrojados com base em instrumentos de sopro e cordas inspirados e a anos luz de distância do que foi apresentado pela banda de Renato Russo dentro de um contexto totalmente diferente.

O Guns'N'Roses fez uma ótima versão de Bob Dylan
Outro exemplo bem interessante foi a versão que o Guns’N’Roses fez de “Knocking on Heavens Door”, de Bob Dylan em 1991 no segundo volume de um de seus álbuns mais conhecidos ("Use Your Illusion"). A banda se apropria totalmente da canção, como se fosse sua mesmo, ficando muito diferente da versão de seu autor. Slash fez sua parte dando suporte à canção com um ótimo arranjo, riffs e solos de guitarra que tanto marcaram a banda e Axl Roses com seu vocal esganiçado completou a canção, uma das melhores do repertório da banda.

Sheryl deu sua "cara" à Sweet Child O'Mine

Aproveitando que falei da falecida banda, me veio também à memoria a versão que a cantora e multi-instrumentista Sheryl Crow fez de outra canção bem conhecida da banda de Hard Hock, transformando "Sweet Child O' mine" em uma balada PopRock/Coutry e mais um monte de outras influências que permeiam a carreira da artista, dando-lhe uma configuração totalmente nova e pessoal de muita qualidade.

A intenção desse texto, como tudo mais que é postado aqui na taverna não é definir parâmetros de nada, até porque que nem tenho qualificação para tanto. Apenas gostaria expor um ponto de vista pessoal e abrir espaço pra discussão com você, que é nosso leitor e principal motivo da existência e continuidade deste trabalho, que aos poucos vai ganhando um ritmo mais aceitável.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Mortes e ressurreições nas HQs: Um círculo vicioso

Gwen Stacy: morte marcante e definitiva
A morte nem sempre foi um tema muito recorrente nas Histórias em Quadrinhos (HQs) e, quando acontecia, (na grande maioria das vezes) era pra sempre. O personagem morria e ponto final. Foi assim com o tio Ben, de Peter Parker e também com a Gwen Stacy (Homem-Aranha), o Capitão Marvel (da Marvel) e, durante muito tempo, com a Jean Grey/Fênix (X-Men). 

Nos dias de hoje, principalmente por causa de uma certa morte de um certo personagem icônico da DC Comics lá no ano de 1992 há mortes e ressurreições num ritmo que, sinceramente, vem se tornando monótono ao longo do tempo e contribuindo negativamente para a qualidade do que vem sendo publicado (principalmente no mainstream) em forma de arte sequencial, conhecida carinhosamente como Nona Arte.




Primeira grande morte com retorno
A morte que pôs fim às mortes
Devido a quedas cada vez maiores nas vendas das revistas mensais do Superman, editores e o pessoal do  Merchandising da DC Comics (editora norte-americana que publica o personagem) resolveram solucionar o problema dando uma guinada total nas histórias do herói, colocando-o novamente no centro das atenções dos leitores e também de toda mídia impressa e também audiovisual. O que foi feito? Mataram o cara. E o responsável por tal feito? Um personagem que foi criado especificamente para isso: Apocalypse.

Não quero aqui dizer que a história foi péssima. Além de se tratar de uma trama razoavelmente interessante que foi prendendo a atenção enquanto rolava (no Brasil foi publicada originalmente pela Editora Abril em um encadernado em formatinho, menor que o americano), conseguiu atingir sua principal meta: ressuscitar as vendas das revistas do personagem, que já beiravam ao cancelamento e, de quebra, ainda inseriu novos personagens que originaram novas revistas a partir da fase posterior à morte do personagem. Aí foi que tudo começou a degringolar de vez.

A Marvel já matou até o Capitão América
Praticamente todo ano as duas principais editoras do mercado estadunidense (Marvel e DC) passaram a cria história com mortes de seus principais personagens como soluções fáceis para alavancar as vendas das revistas. Com isso passaram a perder as histórias, que na maioria das vezes foram ficando cada vez mais rasas ao ponto de hoje o tiro praticamente sair pela culatra, já que a morte é tão lugar comum e previsível que no ano seguinte vai ser feita uma nova campanha midiática marcando o retorno do personagem à vida.

Já mataram o Ciclope, Colossus e novamente e de novo a Jean Grey e já tão prometendo matar o Wolverine (todos dos X-Men) no ano que vem, o Batman, o Capitão América, o Visão (Vingadores) entre vários outros personagens. Alguns com histórias melhores, outros bem fracas mesmo. O preocupante disso é que nem se reflete mais sobre que se pode fazer de realmente bom para alavancar as vendas das HQs. Estão ruins? Mata o personagem que tudo vai melhorar! 

Com isso perdem os leitores, os artistas, que acabam ficando limitados a decisões editoriais que cerceiam suas imaginações, que poderiam lançar histórias bem mais interessantes, seguindo outros plots, fruto de suas próprias reflexões acerca dos personagens com que estão trabalhando. Perde também a própria mídia, como um todo que se torna previsível, num círculo vicioso e ao longo do tempo vai tornando-se desinteressante por esse motivo. Acaba-se investindo em eventos bombásticos que nada de realmente sólido acrescentam às histórias, pois, em breve, tudo volta ao status quo anterior.


Ótima edição de abertura da fase
de Grant Morrison nos X-Men
O que fazer?
Lá pelos anos 80 surgiram nas HQs autores que realmente ousaram, mesmo não sendo grandes “assassinos /ressussitadores" de personagens. Alan Moore ("Watchmen", "V de Vingança", "Monstro do Pântano"), Neil Gaiman ("Sandman", "Orquídea Negra", "Livros da Magia") e Grant Morrison ("Homem-Animal", "Os Invisíveis", "Novos X-Men", "Superman: Grandes Astros") foram os três primeiros grandes nomes do que futuramente se tornou o selo Vertigo (linha adulta de HQs da DC Comics). 

Dessas mentes surgiram histórias realmente geniais, não apenas com suas criações, mas também com personagens icônicos tanto da Marvel quanto da DC. Só pra citar coisas mais recentes, como esquecer “O que aconteceu com o Cavaleiro das Trevas”, réquiem inspirado e homenagem de Neil Gaiman fez ao Batman em apenas duas edições das HQs mensais do Homem-Morcego, ou mesmo a controversa e marcante fase que os X-Men atravessaram pelas mãos de Grant Morrison no início dos anos 2000 que gera reflexos até os dias de hoje nas revistas mutantes. Alan Moore, por sua vez, deixou de lado as grandes editoras mas tem contribuído muito para melhorar a qualidade geral do que vem sendo impresso, que o diga sua "Liga Extraordinária", formada por personagens da literatura clássica sob o ponto de vista do autor recluso.

Nem precisa ser um grande cânone como os supracitados pra fazer histórias que ao menos garantem um bom entretenimento sem ter que matar e ressuscitar personagens anualmente. Joss Whedon teve uma ótima fase à frente dos “Surpreendentes X-Men”. Brian Azarello e sua história criminal "100 balas" nos proporcionou uma viagem ao submundo da máfia norte-americana com passagem só de ida. Brian K. Vaugan é um dos mais criativos autores da nova geração, com as inovadoras e já concluídas “Ex-Machina” e “Y: O Último Homem”, ou mesmo a edição especial “Leões de Bagdá”, uma fábula atual sobre a guerra no Iraque. Jason Aaron, apesar de ser uma inconstância maior que os demais na qualidade de suas histórias, nos presenteou com "Escalpo", uma história que mostra a degradação da cultura indígena no cenário atual, recheada com balas, drogas e sexo, sem poupar o leitor de nenhum detalhe obscuro.

Leões de Bagdá: Uma outro olhar sobre a guerra no Iraque
Boas histórias não precisam ser cerceadas. Basta apenas deixar os artistas fazerem o que nasceram pra fazer que daí, mesmo sem forçar muito a barra, podem sair verdadeiras pérolas que ficarão marcadas para sempre. Nem sempre é preciso brincar com um tema tão sério e definitivo para se contar uma história de entretenimento de forma eficiente e satisfatória, agradando leitores e gerando lucros às editoras. Pode ser um caminho um pouco mais complicado, mas com isso todos ganham.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Desvendando os clássicos do Rock (nunca é tarde demais)

Há muitos anos curto o Rock’Roll como estilo musical, principalmente o nacional, que, a bem da verdade, hoje sei que tem muito mais cara de PopRock. Sempre tive um pouco de preconceito às avessas com relação a esse estilo de música, pois não tinha a mente aberta às bandas seminais e enxergava as bandas nacionais que tanto gostava (sobretudo a Legião Urbana e os Engenheiros do Hawaii) como um processo a parte, totalmente diferente e isolado do que acontecia lá fora. Ledo engano.

Há algum tempo, finalmente me propus a ouvir algumas canções da banda inglesa Led Zeppelin, que, até então, só conhecia de nome. Ouvi o primeiro disco em um arquivo .mp3 que me foi passado por um amigo e, de cara, gostei muito daquela forma de expressão. Os caras faziam um som tão visceral e ao mesmo tempo tão moderno, ousado e elaborado, completo. Tudo isso ainda no finalzinho dos anos 60, início dos 70! Tudo bem que era uma época e país (guerra fria e o movimento Hippie, por exemplo) que muito contribuíram para que os sentimentos aflorassem gerando campo fértil para seu surgimento.

Formação original do Led Zeppelin
Aos poucos fui buscando os outros álbuns na intenção de conhecer melhor aquela banda que foi tão importante para a evolução do rock, entrando por várias outras vertentes musicais, como o blues, reggae, folk, jazz, entre outros, variando suas canções entre mais acústicas (algumas beirando o bucolismo de um cenário descrito por J.R.R. Talkien (autor de "O Senhor dos Anéis") em seus livros, que também exerce forte influência sobre “clima” da banda) ou mais pesadas, com vocais muitas vezes raivosos de Robert Plant. Tudo na dose exata, entre flautas, gaitas, violões de 6 e 12 cordas e guitarras distorcidas.

Só pra citar algumas das mais “carimbadas”, temos “Moby Dick”, com sua grudenta linha de guitarra distorcida, nas cordas graves, ou a introdução da controversa “Stairway to Heaven” (que muitos dizem ter uma letra repleta de mensagens subliminares), com seu lindo dedilhado executado por Jimy Page e cobiçado por todos que um dia na vida quiseram tocar violão. Não poderia aqui deixar de citar “Dy’er Mak’er”, com sua pegada reggae, quando esse estilo musical praticamente ainda nem existia (pelo menos, não fora da Jamaica) e também a cinematográfica “Kashmir”, com uma virada instrumental na introdução de tirar o fôlego até mesmo de quem não gosta de Rock e já, meio que plantando sementes pra o futuro da música, com pegadas que sugerem o que hoje se chama música eletrônica. 

O Black Sabbath: Raízes do Heavy Metal
Depois dessa, veio pra mim a, também britânica, Black Sabbath, com um som mais pesado e com um visual e letras que remetiam a histórias de terror, tão presentes em livros e filmes que já faziam sucesso nos anos 60 e permeavam e ainda permeiam a imaginação das pessoas. Com eles percebi uma ousadia diferente. Um som mais pesado mesmo. Guitarras distorcidas são a tônica. Um vocal agressivo, gritado, quase gutural de Ozzy Osborne. Riffs de guitarra inesquecíveis por Tony Iommi, como os de “Iron Man” ou “Paranoid” e também "N.I.B", ambos, praticamente sobrenaturais. Vale destacar a ótima, triste e diferente "Changes", tocada ao piano e com arranjos orquestrais (uma exceção)  Essas duas primeiras bandas podem ser consideradas as responsáveis pelo nascimento do Heavy Metal.

A banda australiana AC/DC
A última que tive acesso e, até agora, apenas um disco (infelizmente, mas contornável), mas que me deixou perplexo é AC/DC. Uma banda seminal do que hoje se entende por HardRock. Praticamente a mãe do Guns N’Roses. Não tem como ouvir Welcome to the Jungle sem entrar de cabeça também no mundo do AC/DC (pelo menos, quem já ouviu alguma coisa dos caras). “Highway to Hell”, com seu riff mais que clássico. “Girls got Rhythm” é outra, presente neste mesmo álbum, que é um show à parte. Outra, muito “foda”, porém de outro álbum é a “Back to Black”, também lembrada com uma das melhores da banda. Os riffs iniciais da canção tocados na guitarra por Angus Young

A convergência
Após essa breve iniciação principalmente com essas, mas também com outras bandas, fui ouvir novamente minhas queridas representantes nacionais do Rock e nunca mais as vi com os mesmos olhos. Vi várias formas de influência dessas e de outras bandas. Só pra dar um exemplo, lá no meio de um disco da fase madura da Legião Urbana (V), tem uma canção chamada “Metal Contra as Nuvens”. Quem já ouviu “Stairway to Heaven” (Led Zeppelin) ao menos uma vez e tem o mínimo de senso musical, deve perceber a proximidade musical que há entre as duas, tanto letra quanto música parecem dialogar uma com a outra em muitos momentos. Conhecer o Led Zeppelin só fez enriquecer a experiência musical de uma música que eu já gostava tanto.

Assim como essa, há outras que não vou expor aqui por falta de espaço e também porque, infelizmente, me fogem à lembrança. Aproveito a deixa pra dizer que em breve farei uma espécie de resenha de alguns dos discos aqui citados para que você também possa deixar seu comentário sobre eles. Aliás, se quiser, pode deixar nesse texto mesmo suas críticas (construtivas sempre, por favor), sugestões ou, quem sabe, ideias para novos textos.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Expectativa: 4ª Temporada de The Walking Dead faz uma pausa em ótimo momento

Cartaz apresenta protagonistas
Aproveitando a pausa de “Mid Season” da quarta temporada da série “The Walking Dead” (ela volta em fevereiro de 2014), gostaria de tecer aqui alguns comentários sobre o andamento dessa temporada até agora.

Após a ótima, mas mal encerrada, terceira temporada, a série vinha num ritmo meio devagar, com algumas boas surpresas, como o assassinato a sangue-frio de alguns dos moradores da prisão e a descoberta da avassaladora da identidade do o assassino e, consequentemente, o crescimento dramático de uma personagem que há tempos já não tinha mais razão de ser na série. A verdade é que, aos poucos, tudo foi ficando num ritmo lento, pois a história praticamente parou para reinserir o governador (que andava sumido desde o final da temporada anterior) naquele universo distorcido pós-apocalíptico. Foi parecendo que ele estava mudando, evoluindo e se tornando uma pessoa melhor, até que nos últimos episódios, dar um tapa na cara de quem acreditava nisso, o Governador volta a ser o grande FDP que todos adoram odiar e, no fundo, sabiam que ele continuava sendo assim

Carol: Personagem sofre  mudanças
Parece que todas as surpresas foram guardadas para esse último episódio antes da já tradicional pausa de final de ano. O tão esperado confronto entre o grupo que reside na prisão e o governador finalmente aconteceu de verdade (o que houve no final da temporada passada, pareceu uma ejaculação precoce, perto disso!).

Houve baixas dos dois lados. Algumas bem inesperadas pelo andamento que a história vinha levando. Uma briga mano-a-mano (bem briga de rua mesmo) entre o Governador e Rick. Com uma conclusão mais que surpreendente, também pra todos os lados.

Estou evitando ao máximo por spoilers aqui, mas fica bem difícil falar dessa série sem falar dos acontecimentos. As vinganças pessoais, as motivações dos personagens e as transformações porque passaram ao longo dos últimos três anos.


Se ainda não deu chance à esta série, já está passando da hora. Não perca mais tempo. Se já conhece, só nos resta roer todas as unhas, enquanto esperamos a volta dessa que é, sem dúvida, a série mais assistida e comentada da atualidade. 

Episódio que marcou pausa da temporada é clímax da série

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Planetary finalmente está disponível para os fãs de HQs de super-heróis e ficção científica

Capa do primeiro volume: 
problema na mistura de cores 
A editora Panini Comics lançou no final do mês passado, com algum atraso (era pra ter saído em outubro), o primeiro volume da HQ “Planetary” - Pelo Mundo Todo, de Warren Ellis (roteiro) e Jonh Cassaday (arte) como havia prometido e, à época, foi divulgado aqui mesmo nesse blog. A edição inclui os seis primeiros números da série mensal e pode ser adquirida, senão em bancas (em algumas regiões do país), ao menos em Comic Shops físicas ou virtuais espalhados pela web. 

Como sempre (ou pelo menos, na grande maioria das vezes) o resultado final do trabalho da editora foi bastante produtivo, apresentando um produto de qualidade, apesar do preço um pouco salgado (R$ 21,90) devido ao número de páginas e seu acabamento. O recém-lançado pela própria Panini “Os Livros da Magia”, por exemplo, tem praticamente o mesmo número de páginas, acabamento em papel couchê e capa dura e custa pouco mais que esta edição que tem capa cartão e papel LWC, que garante qualidade de impressão, é certo, mas não tão legal quanto o ótimo couchê.

O roteiro de Planetary é um primor que inclui viagens personagens que remetem às literatura Pulp (quadrinhos e livros antigos de mistério, crimes e ficção científica em papel de baixa qualidade) viagens no tempo, uma arqueologia totalmente às avessas da tradicional, entre outras surpresas ao longo das edições da série. A arte de Cassaday é um show à parte, com sua anatomia beirando à perfeição e cenas que às vezes mais parecem tomadas de cinema realizadas por um ótimo diretor. Não podemos deixa de destacar a paleta de cores usada por Laura Martin, sempre precisas em belas na medida certa.

O Planetary é formado por Jakita Wagner (super-forte), Elijah Snow (líder e tem a habilidade de dominar o frio) e Baterista (habilidade de se comunicar com máquinas). Os arqueólogos do impossível, como se auto-intitulam, investigam a história secreta do século XX, o que inclui muitas aventuras, no mínimo inusitadas recheadas de referências às mais variadas de expressão da cultura pop mundial, como a já citada literatura pulp e os filmes japoneses de monstros. 

Capa prevista para o segundo volume
Uma boa surpresa desse volume é a inclusão do preview de Planetary, publicado nos idos de 1999 como bônus em algumas edições da Wildstorm (selo da DC Comics) como uma pequena apresentação da série, então vindoura. O prefácio é um presente aos leitores, assinado por ninguém menos que o mago barbudo dos Quadrinhos, Alan Moore, autor de obras clássicas e seminais, como “V de Vingança”, “Watchmen”, “A Piada Mortal”, entre tantas outras.

Ah. A editora já promete o segundo volume: Planetary: O Quarto Homem, para este mês. Esperamos que dessa vez tudo dê certo e saia no prazo prometido. A série está prevista para ser completada em quatro volumes (compilando suas 27 edições individuais), e, se o ritmo de publicação for minimamente mantido, deve ser encerrada em meados do ano que vem.

Um ponto negativo foi a escolha de cores da capa, que ficou meio borrada ao ponto de parecer lavada, como se tivesse perdido a cor. Mas isso, até onde sei é porque está sendo seguido e esquema de capas originais, não sendo diretamente culpa da publicação nacional.


Um pouco da História
Nesses primeiros números somos apresentados ao Planetary, seu conceito e personagens, e acompanhamos algumas de suas aventuras, como a primeira edição, em que Jakita encontra Snow e o convida a fazer parte da equipe e ajuda-la a desvendar a história secreta do século XX, ou ainda a segunda edição, que faz uma brincadeira com os monstros japoneses e seitas messiânicas. 

A história vai aos poucos tomando contorno e o que parecia não ser nada demais há algumas páginas vai mostrando sua razão de ser devagarzinho. 

Esse foi só um pequeno aperitivo sobre a edição em si e sua qualidade técnica. Em breve devo publicar uma resenha de verdade sobre a história desse primeiro volume. 

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Ultiverso Marvel: Em queda nas HQs e em alta nos cinemas

Versão Ultimate dos personagens
Uma das coisas mais interessantes que surgiu no mainstream das HQs norte-americanas no início dos anos 2000 foi o lançamento do Universo Marvel Ultimate (ou "Ultiverso"), que, na prática, são versões atualizadas dos personagens do universo Marvel tradicional, produzidas por artistas promissores, como os roteiristas Mark Millar (Ultimate X-Men e Os Supremos “Ultimates”) e Brian Michael Bendis (Ultimate Homem-Aranha) e os desenhistas Mark Bagley (Ultimate Homem-Aranha), Adam Kubert (Ultimate X-Men) e Brian Hitch (Os Supremos “Ultimates”) das origens e trajetórias de personagens da editora que, de uma forma ou de outra, já se encontravam bastante defasadas em relação à atualidade, muitos deles, do início dos anos 60, como é o caso dos X-Men, Homem-Aranha, Quarteto Fantástico, só pra citar alguns dos que já foram lançados dentro dessa linha.

Essa foi uma espécie de "Reboot" dos personagens inspirada no sucesso do, então, recém-lançado primeiro filme dos X-Men e, posteriormente, do Homem-Aranha, atualizando a maioria dos conceitos originais, como se cada um deles surgisse nos dias atuais. O resultado foram origens e histórias contadas de forma bem inovadoras e diferentes daquelas que estávamos acostumados, mas ao mesmo tempo, respeitando as ideias originais principais, como a famosa frase: “Grandes poderes, vêm grandes responsabilidades”, uma espécie de código seguido pelo Homem-Aranha.

A diferença em relação à atitude recente da DC de fazer um “Reboot” em toda a acepção da palavra é que a DC realmente “zerou” sua cronologia, desconsiderando praticamente tudo que fora publicado antes, enquanto que com o Ultiverso (muitos anos antes, importante salientar), a “Casa das Ideias” teve uma atitude menos corajosa, visto que o universo Marvel tradicional se manteve, sendo essas histórias meio que uma linha “Elsen Worlds” (no Brasil, “Coleção Túnel do Tempo” da DC, na época da Editora Abril, que publicava histórias alternativas fora de cronologia da DC) da Marvel.

O Ultiverso começou a ser publicado ainda pela editora abril nos idos do início deste século sob o título de Marvel Século 21 (com histórias das versões Ultimate do Homem-Aranha e dos X-Men) e posteriormente renomeada de Marvel Millenium pela Panini Comics, que hoje ainda detém os direitos de publicação da linha, que já foi renomeada novamente e hoje, finalmente chamada de Ultimate Marvel e já passa da quadragésima edição.

O novo Ultimate Homem-Aranha
Crise no Ultiverso
O tempo passou e uma das principais intenções desse relançamento, que era atrair novos leitores por desconsiderar toda aquela intrincada cronologia do Universo Marvel tradicional que acabava afastando quem não lê, fazendo com que continuasse assim, caiu por terra. Aconteceu o inevitável, cerca de dez anos de histórias mensais e minisséries especiais acabaram dando espaço ao surgimento de uma nova (e também intrincada) cronologia e as vendas, excetuando-se a sempre ótima Ultimate Homem-Aranha, começaram a cair a níveis que praticamente não valia mais a pena continuar com a publicação dessas HQs.

Já houve relançamentos e mais relançamentos e megassagas, edições especiais e etc, mas a verdade é que aquele frescor original nunca mais foi o mesmo. Hoje o ultiverso ainda existe, mas não é mais a mesma coisa. Mais uma vez, destaque para o Homem-Aranha, que já mudou até de alte-ego, com (*início do spoiler) a morte de Peter Parker (fim do spoiler), mas mesmo assim, continua rendendo boas histórias.

Hoje o Ultiverso está ficando cada vez mais parecido com a Marvel tradicional, tendo, inclusive contratado roteiristas e artistas que fizeram carreira lá, deixando os argumentos dos dois muito similares, o que praticamente tornou sem sentido sua existência como um universo à parte.

Arte de Joe Madureira: Volta da Marvel Ultimate aos anos 90

Adaptação cinematográfica
dos Vigadores
A inversão de Papéis
Além do Homem-Aranha, ótimas histórias dos Vingadores, nesse universo conhecidos como Ultimates (no Brasil, Os Supremos), foram contadas pelo escritor Mark Millar e o desenhista Brian Hitch, nos dois ótimos primeiros volumes da série (com 13 edições, cada). Na conversão para o cinema dos Vingadores aconteceu exatamente o inverso dos X-Men e do Homem-Aranha, por exemplo. Enquanto as outras séries surgiram devido ao sucesso dos filmes, a dos vingadores (e seus personagens solo), surgiram, sobretudo, a partir das ideias apresentadas nesses dois primeiros volumes das HQs do universo Ultimate.

Vale lembrar a importância destes terem sido produções da própria Marvel, o que acabou contribuindo para o surgimento de um Universo Marvel no cinema e não apenas filmes com personagens ou equipes isoladas, como acontecia e ainda hoje acontece, devido principalmente à pluralidade de estúdios que trabalham com os personagens, os direitos dos personagens X-Men, por exemplo, pertencem à Fox, o Homem-Aranha, à Sony, já de todos os vingadores estão com a Marvel Studios, proporcionando campo fértil para o nascimento do Universo Marvel nos cinemas, rendendo hoje boas histórias tanto da equipe quanto filmes individuais, como o vindouro Capitão América – Soldado Invernal, segundo filme do personagem, cujo trailer promete ser bem superior ao primeiro.

Ultimates: os Vingadores do Ultiverso


*Selecione o texto para poder ler o spoiler.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Forma x Conteúdo: Como todo mundo pode ganhar com isso?

A discussão: Forma x Conteúdo é tão antiga que nem vale a pena procurar pelo contexto de seus primórdios, mas pode nos levar e também os empresários de vários ramos, como o do entretenimento (que é o que aqui tratamos) a pensar sobre o assunto e, dessa forma, tentar maximizar os resultados das vendas dos produtos que colocam no mercado. Colocarei aqui dois exemplos para que possamos alargar um pouco os horizontes do assunto, ou, pelo menos, pôr mais lenha na fogueira. O que também é muito válido, pois pode gerar algum resultado positivo, quem sabe?


Versão encadernada em
volume único de Watchmen


Versão em dois volumes e capa mole














As HQs
No mundo pop essa discussão é muito válida, quando se leva em consideração o lançamento livros e HQs (Graphic Novels), por exemplo, um formato muito luxuoso e recheado de extras quase sempre acaba se elitizando o produto que, a princípio, é descompromissado e juvenil. O que seria, no mínimo, uma contradição por reduzir ainda mais o público de um produto que já é considerado de nicho.

Uma boa alternativa para se contornar o problema, que já é feito nos mercado norte-americano há tempos e aos poucos os empresários do nosso vem tomando como exemplo, é o lançamento do mesmo produto em mais de uma versão. Com opção de capa dura e papel de qualidade ou capa mole e papel mais barato, com ou sem os famosos “extras”, que algumas vezes são muito interessantes, mas noutras não passam de pequenos “fetiches” para leitores mais fanáticos que, no final das contas, só servem para aumentar os preços e afastar muitos possíveis leitores com menos dinheiro disponível para gastar.

A Panini, maior editora de quadrinhos do país vem lançado alguns de seus produtos dentro dessa lógica, como as “Graphic MSP” (aqui já tratadas em outra ocasião), que têm opção em capa dura ou mole, com preços diferentes ou mesmo Watchmen, que quando lançada por esta editora pela primeira vez veio com opção em volume único, em capa dura e papel couchê ou em capa mole e papel pisa-brite dividida em dois volumes.

A opção da Devir: mesma
capa para as duas versões
O mesmo também vem sendo feito por editoras menores pela Devir, em suas edições da Liga Extraordinária e também de Umbrella Academy, ambas com acabamento em versão capa dura ou mole. Não podemos deixar de citar aqui a interessante situação da HQM, que lançou The Walking Dead (Os Mortos-Vivos) inicialmente em encadernados com arcos completos e hoje lança em edições mensais (agora, quinzenais), com o conteúdo de apenas uma edição gringa em seu formato original. Mesmo assim não encerrou a coleção de encadernados, que atualmente está em seu 12º volume e tem previsão de mais no ano que vem. Atualmente, o leitor tem as duas opções, comprar pacientemente as quinzenais ou os encadernados, cuja história já está bem mais adiantada e é fácil encontrar números atrasados, principalmente em lojas na internet.

Outra solução interessante é a criação de um meio termo, como aconteceu recentemente com “Livros da Magia”, de Neil Gaiman, uma minissérie completa com capa dura e papel de qualidade pelo preço de pouco mais de R$ 20. O segredo? Impressão na Ásia, que reduz significativamente os custos de produções e se reflete positivamente para o mercado no preço e qualidade do material.

Capa da edição de estreia da mensal
The Walking Dead no Brasil
Capa do primeiro volume
encadernado da série















Os DVDs/Blu-rays
Interessante esse mercado, que desde sempre ofereceu o produto em várias versões para agradar diferentes tipos de consumidores. Já vi em um, dois, ou até três discos, com vários extras (e preços astronômicos) para agradar os fãs mais exigentes. Veja bem. Com isso, todos ganham. A pessoa escolhe a configuração do produto que melhor atende seus interesses: Se deseja só o filme, beleza, se deseja o filme, mais documentários e um monte de informações, também.
Versão especial de Cavaleiro das
Trevas Ressurge
E sua versão mais simples



Pena que o mercado fonográfico não aprende com essas coisas. Os CDs (que aos poucos vão se tornando peça de museu) continuam, na maioria das vezes, sendo lançados em versão única, ou no máximo dividindo um duplo em dois, o que na verdade não é tanta vantagem, visto que quem compra quer o álbum completo, e não apenas metade, ou ainda em formato de LP à preços muito pouco competitivos (aí, sim fechando-se em um nicho minúsculo). Esse produto também poderia ter acabamentos diferenciados lançados ao mesmo tempo, com encartes onde constam as letras, fotos e artes complexas ou simples, com caixinhas de plástico ou papel, entre outras coisas.  

Assim todos ganhariam e o mercado se tornaria mais saudável, ao tempo em que quem desejar um produto, poderá tê-lo exatamente do jeito que atende seus interesses. 

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Review: Thor - O Mundo Sombrio

Enquanto o primeiro filme do “Thor” (2011), de Kenneth Branagh é bem mais ou menos, apenas cumprindo sua contribuição como um dos necessários prelúdios para integrar a posterior trama dos “Vingadores” (2012), “Thor – Mundo Sombrio” (ainda em cartaz) dá um avanço na história específica deste herói, provando que ele pode sim sustentar sozinho uma franquia de forma interessante. E olha que gosto de HQs, mas nem, de longe, sou o maior fã desse personagem.

O protagonista apresenta um bom desenvolvimento durante a trama e os personagens coadjuvantes conseguem ter seus momentos de glória na fita, com a Jane Foster (a oscarizada Natalie Portland), interesse romântico do protagonista, se tornando uma peça chave para o desenrolar do enredo, a mãe de Thor, Frigga (Rene Russo) também é outra, que em poucas cenas consegue mudar todo o andamento do filme. 

Mas o destaque mesmo, como sempre, vai para Loki, que consegue ser muito mais interessante e sarcástico que nas HQs, o que se deve muito à brilhante atuação de Tom Hiddleston, que muitas vezes consegue até roubar a cena, tornando-se inclusive mais interessante que o próprio Thor (Chris Hemsworth) e, indiretamente contribuindo para que o personagem de seu irmão ganhe maior destaque devido à relação dos dois. As melhores cenas, com certeza, são as que ele está presente. Inesquecível a que ele fica mudando de aparência enquanto conversa de forma descontraída com seu irmão.

As mulheres têm papel importante em "Mundo Sombrio"

A direção dessa vez ficou por conta de Alan Taylor, que veio de ótimas séries de TV, como "Game of Thrones", portanto, trazendo uma abordagem diferente e de qualidade para compor Asgard, por exemplo (que ficou menos iluminada e mais suja que no primeiro filme) e para conduzir a trama de forma coerente e eficaz. 

Interessante salientar que nos cinemas o Thor (até mesmo seu uniforme) é uma espécie de amálgama do personagem do Universo Marvel tradicional com o do Universo Ultimate (mais atualizado), diferentemente do que aconteceu com os demais personagens, onde praticamente tudo que se passou no tradicional foi rejeitado, criando-se a gênese da história basicamente de "Os Supremos", de Mark Millar (roteiros) e Brian Hitch (arte). 

Trata-se de um bom filme de ação para quem procura por isso.  O único detalhe negativo, que também percebi em "Homem de Ferro 3" (de Shane Black), que meio que praticamente isolou completamente o personagem do Universo Marvel nos cinemas que está em crescimento no cinema. Poxa, não era preciso que todos aparecessem e ajudassem Thor a lidar com Malekith, mas o universo estava em perigo e é necessário, pelo menos, dar uma boa desculpa para que eles não possam ajudá-lo em uma crise tão grande. A desculpa poderia ser até mesmo os problemas que cada um deles vem enfrentando em seus longas. Já tava valendo.


Sobre o enredo (Praticamente sem spoilers):

Loki: ótima atuação de Tom Hiddleston 
A história de "Thor – Mundo Sombrio" se passa algum tempo após os eventos mostrados em “Os Vingadores”, com o protagonista e seus aliados lutando para pacificar os Nove Reinos da mitologia nórdica, quando ressurge uma antiga raça há muito derrotada por Borr (o pai de Odin) chamada “Elfos Negros”. Eles dominavam bem a arte da guerra, inclusive armas de fogo e de alta tecnologia e eram liderados por Malekith (Christopher Eccleston), um grande estrategista cuja intenção é recriar o grande Caos, ou Era Sombria, quando os Elfos Negros dominavam o mundo. O vilão, supostamente morto há centenas de anos, reaparece e agora detém em suas mãos o Éter, uma arma capaz de tornar seus planos realidade e a única força capaz de detê-lo, ou pelo menos, tentar é Thor e seus aliados.   

Os mundos estão entrando em convergência, que é um momento único, onde há espécies de buracos de minhoca entre os nove reinos e se pode viajar entre eles sem necessidade de passar pela Ponte do Arco-Íris (ou Bifrost) ou qualquer outro artifício, como se tivesse entrando sorrateiramente por uma janela de um mundo para o outro. Destaque para a cena de batalha que se passa em todos os mundos ao mesmo tempo e termina de forma, no mínimo, inesperada.


Malekith: um vilão com sede de poder e uma poderosa arma nas mãos

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Review: Segunda temporada de Dexter

Dando continuidade às resenhas que me propus a fazer sobre a telessérie "Dexter", chegamos finalmente (atrasados. Reconheço minha culpa!) à segunda temporada, quando a trama fecha um bocado o cerco sobre nosso protagonista. Lá vem spoilers: Só pra começar, os corpos das vítimas de nosso assassino serial preferido são descobertos no fundo do mar de Miami e o FBI entra em cena para iniciar uma investigação sobre o criminoso que a imprensa apelidou de “Açougueiro de Baía de Harbor” (Bay Harbor Buthcer), devido ao estado em que suas vítimas se encontravam, totalmente desmembradas.

Os problemas de Dexter não param de crescem. Com a entrada do FBI nas investigações, também entra em cena o agente especial Frank Lundi (Keith Carradine), cuja especialidade é exatamente encontrar e capturar assassinos seriais, colocando o pescoço do nosso protagonista em risco. Posteriormente ele inicia um relacionamento com a irmã de Dexter, Debra Morgan (Jennifer Carpenter), complicando ainda mais a situação para todos.

Como se isso não bastasse, as desconfianças do Sargento James Doakes (Erik King) sobre  Dexter beiram ao absurdo e ele passa a ser sua sombra, perseguindo-o por toda parte. A princípio, “Dex” tira tudo de letra, levando Doakes exatamente para onde ele quer. Fazendo-o cansar de persegui-lo, até finalmente poder ficar livre por alguns momentos para dar continuidade ao seu "trabalho". Mas, como era-se de esperar, as coisas tomam rumos inesperados, deixando Dexter em uma situação totalmente nova até então.

Lila aparece e complica mais a vida de Dexter
Rita (Julie Benz) finalmente começa a perceber as atitudes estranhas de seu namorado e passa a pressioná-lo a fim de entender o que se passa, finalmente, acreditando que Dexter é viciado em drogas e incentivando-o a se tratar para solucionar o problema. Mal sabia ela que durante o tratamento ele conheceria a artista plástica Lila Tournay (Jaime Murray), uma inglesa, que torna-se sua “madrinha” durante o tratamento, e acaba entrando em um relacionamento afetivo com Dexter, mas quando ele vai conhecendo-a melhor percebe que ela tem muito mais problemas que ele mesmo e acaba colocando sua família em risco.

O cerco vai fechando mais e mais e o foco da investigação acaba mudando drasticamente até terminar tudo de uma forma totalmente inesperada por quem vinha assistindo os doze episódios dessa ótima temporada.

As aparições de Harry Morgan continuam presentes como Flashback e muitos novos detalhes importantes sobre o passado de Dexter e também de seu pai vão sendo inseridos aos poucos na trama, fazendo com que a história torne-se mais intrigante a cada episódio. 



Mais uma vez a trama se fecha em si, sem deixar a entender o que acontecerá na próxima temporada o que para a audiência torna-se muito bom, pois não fica aquele clima de suspense e, caso não venham a serem produzidos mais episódios, ao menos não ficam tantas pontas soltas a ponto de ficar sem sentido um ponto final relativamente satisfatório ali mesmo.

Clique aqui e confira a resenha da 1ª Temporada.
Ou aqui e leia uma breve análise sobre a série.  

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Super-heróis no cinema: uma difícil trajetória

Adaptar histórias em quadrinhos (sobretudo de super-heróis) para o cinema sempre foi uma dor de cabeça para diretores e produtores da sétima arte, salvo raríssimas exceções, como o primeiro "Superman" (1978), de Richard Donner de ou "Batman" (1989) e "Batman - O Retorno", ambos de Tim Burton, e todos da DC Comics e produzidos pela Warner Bros. O roteiro nunca ficava redondo, os efeitos especiais geralmente deixavam muito a desejar, as produções nunca tinham um ar profissional e, por isso, quase nunca eram levadas a sério pelo público ou pela crítica.



A primeira grande mudança
No início dos anos 2000 as coisas mudaram de um jeito que até hoje estão ficando cada vez mais comuns ótimas adaptações desses personagens, que antes eram incógnitas e já se tornaram sinônimo de alto faturamento para os estúdios, pelo menos na maioria das vezes. O pontapé inicial desse ciclo inesperadamente veio com personagens da Marvel pela Fox, com X-Men (2000), de Brian Singer. Com esse filme os personagens realmente são transformados em pessoas, a credibilidade da história os tornou cativantes, quando se tira toda a extravagância dos uniformes multicoloridos e personagens quase onipotentes e roteiros beirando à infantilidade, pode-se sim, ter um bom filme de super-heróis.

Daí em diante foi ladeira acima (sobretudo para os heróis da Marvel), com o megassucesso de Homem-Aranha (2002), de Sam Raimi, Demolidor (2003), de Mark Steven Johnson, X-Men 2, também de Singer e X-Men – O Confronto Final, dessa vez, pelas mãos de Brett Ratner e mais dois filmes do Homem-Aranha (ambos também de Raimi). Claro que como toda regra, essa também tem exceções, que foram o fraco primeiro Hulk (2003), de Ang Lee e o estranho Motoqueiro Fantasma (2007), de  Mark Steven Johnson. Até aí todos se tratavam de Histórias de estúdios diferentes e, portanto, auto-contidas, sem nenhuma referência à existência de outros super-heróis, como se cada filme tratasse de um "universo" diferente.


O surgimento do Universo Marvel nos cinemas 
O, hoje distante, ano de 2006 foi quando aconteceu a grande virada. A Marvel Studios veio com o que, sinceramente, mais parecia um blefe naquele momento. Como quem não quer nada, lá no finalzinho da fita do Homem de Ferro, de Jon Favreau, após os créditos, uma pequena cena surge com ninguém menos que Nick Fury (intepretado por Samuel L. Jackson, como era de se esperar por quem leu a HQ “Os Supremos”) convida Tony Stark a integrar uma equipe que ele estaria formando. Os olhos dos velhos leitores das HQs da Marvel (carinhosamente conhecidos como marvetes) brilharam, mas com aquele quê de desconfiança. Então em 2008 vem o segundo filme do Hulk (“O Incrível Hulk”, de Louis Leterrier), que além de ser mil vezes superior  ao primeiro (sob vários aspectos), ainda dá outra deixa para a tempestade que se forma no horizonte, com uma aparição de Tony Stark em uma nova cena pós-créditos. No Homem de Ferro 2 (2010) vira baderna e já é praticamente um prólogo para os vingadores. Aí veio o Thor, de Kenneth Branagh, e o Capitão América, de Joe Johnston, (ambos de 2011) e o filme dos Vingadores já era uma certeza naquele momento, que finalmente veio à luz em 2012, pelas mãos do diretor, produtor e também roteirista de quadrinhos, Joss Whedon.

Vários heróis em um único estúdio vinculado à Disney e à própria Marvel Comics foi um grande acerto, propiciando esse grande "Crossover" (como é conhecido o encontro de heróis de revistas diferentes) cinematográfico da Marvel. Enfim, finalmente veio em 2012 o esperado filme que amarraria todas as pontas soltas dessas histórias: “Os Vingadores”, um megassucesso de bilheteria, que se tornou um novo ponto de virada da Marvel Studios, a partir de onde se encerrou o que eles chamaram de Fase Um, cuja Fase Dois foi iniciada este ano, com "Homem de Ferro 3", de Shane Black, e continua com o segundo filme do Thor, “Mundo Sombrio”, de  seguindo em 2014, com “Capitão América 2 – Soldado Invernal”. E Muita coisa boa ainda deve vir por aí.


Hoje a Fox, que detém os direitos do universo mutante entendeu que essa interligação dos personagens é viável e bem interessante financeiramente e está preparando para o ano que vem "X-Men - Dias de um Futuro Esquecido", que efetivamente une de as franquias, X-Men, X-Men - Primeira Classe e Wolverine, que eram praticamente isoladas, visto suas histórias algumas vezes até se contradizerem, diferentemente do que ocorre com os filmes da Marvel Studios.



O mais interessante é que tudo teve início lá na década de 60, quando um certo senhor Stan Lee, o lendário roteirista e criador de tantas outras lendas da Marvel Comics (e hoje grande entusiasta dos filmes e onipresente em todos eles com pequenas participações especiais)  se perguntou porque mesmo que todos esses heróis não poderiam viver em uma mesma realidade (ou mesmo cidade) e se encontrarem ocasionalmente para trocarem sopapos entre si ou, quem sabe,  enfrentar uma ameaça que apenas um deles possa conter sozinho.

Enquanto isso, na DC/Warner... 


A DC/Warner, por sua vez, deu início a uma única franquia, porém, de alta qualidade e também altamente lucrativa, iniciada com “Batman Begins” (2003), seguida por “O Cavaleiro das Trevas” (2008) e finalizada com “O Cavaleiro das Trevas Ressurge” (2012), todos capitaneados sabiamente por Cristopher Nolan. Esse ano lançou uma nova aposta: O Homem de Aço (Zack Snyder, com produção do mesmo Nolan do Batman). Esse ano, finalmente “caiu a ficha” (termo um tanto fora de moda, mas que vem à calhar na situação) desse grande estúdio e eles anunciaram que estão preparando um filme que promete dar início à união de dois de seus grandes ícones: “Batman vs. Superman”, sendo o possível início do avanço do universo DC nos cinemas, quem sabe o primeiro passo para um filme da Liga da Justiça, num futuro não tão distante.